ELIO
GASPARI
O comissariado destruidor
O
truque do preço da energia custou um Bill Gates mais um Jorge Paulo Lemann, e
ainda sobram alguns bilhões
Quando
a doutora Dilma assumiu a Presidência, uma ação da Petrobras valia R$ 29. Hoje
ela vale R$ 12,60. Somando-se a perda de valor de mercado da Petrobras à da
Eletrobras, chega-se a cerca de US$ 100 bilhões. Isso significa que a gestão da
doutora comeu um ervanário equivalente à fortuna do homem mais rico do mundo (Bill
Gates, com US$ 76 bilhões), mais a do homem mais rico do Brasil (Jorge Paulo Lemann,
com US$ 19,7 bilhões). Noutra conta, a perda do valor de mercado das duas
empresas de energia equivale à fortuna dos dez maiores bilionários brasileiros.
Se o
governo da doutora Dilma deve ser avaliado pela sua capacidade executiva, o
comissariado petista contrapõe ao conceito de "destruição criadora" do
capitalismo a novidade da destruição destruidora. No caso do preço dos combustíveis,
de quebra, aleijou o mercado de produção de álcool.
Há empresas
como a Polaroid, por exemplo, que vão à ruína porque vivem de uma tecnologia
caduca. Outras cometem erros de concepção, como as aventuras amazônicas da
Fordlândia e do Jari. É o jogo jogado. A perda de valor da Petrobras e da
Eletrobras está fora dessas categorias. Acusar a doutora Graça Foster pelos maus
números da Petrobras seria uma injustiça. A desgraça derivou de uma decisão de
política econômica, mas responsabilizar o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
pelo que acontece nessa área seria caso de atribuição indevida.
O
que agrava o episódio é que tanto a Petrobras como a Eletrobras atolaram por
causa de uma decisão politicamente oportunista e economicamente leviana. Tratava-se
de vender energia a preços baixos para acomodar o índice do custo de vida,
segurando a popularidade do governo. O truque é velho. Mesmo quando deu
resultados políticos imediatos, sempre acabou em desastres para a economia.
Vem
aí a campanha eleitoral e o governo irá à luta buscando a reeleição de Dilma
Rousseff com duas plataformas: a da qualidade de sua gerência e os avanços sociais
que dela derivaram. Numa área em que os governos petistas produziram o êxito do
Prouni, o ministro da Educação Fernando Haddad criou o novo Enem em 2009. Prometia
a realização de dois exames por ano. Nada, mas continuou prometendo. Em 2012 a doutora Dilma anunciou: "No
ano que vem [serão] duas edições". Nada. Apesar de ela ter dito isso, o
ministro Aloizio Mercadante e seu sucessor, José Henrique Paim, descartaram a
segunda prova, que daria à garotada uma segunda chance de disputar a vaga na
universidade. (Nos Estados Unidos, o equivalente ao Enem oferece sete datas a
cada ano.) O novo presidente do Inep, organismo encarregado de aplicar o exame,
dá a seguinte explicação: "É impossível se fazer dois Enens' por ano com
esse Enem. O crescimento [de inscritos] foi de tal ordem que a logística se impôs".
É um
caso simples de gerência. Quem disse que ia fazer dois exames foi o governo. As
dificuldades logísticas não explicam coisa nenhuma, porque elas já estavam aí em
2009 e, desde então, o Brasil não incorporou ao seu território a península da
Crimeia.
O
que há no governo é mais do que má gerencia. É uma fé infinita na empulhação,
ofendendo a inteligência alheia.
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