FERREIRA
GULLAR
Paga o justo pelo baderneiro
Essas
pessoas já se deram conta de que o policial é gente como nós, com mulher,
filhos e tudo mais?
A
polícia não goza de muito prestígio na opinião pública brasileira. E as razões
são muitas, sendo uma delas a venalidade de muitos policiais --e não apenas de
soldados rasos e cabos-- que se valem da autoridade que o Estado lhes atribui
para chantagear e tirar vantagens. Eles se vendem, para falar claro.
Sucede
que isso não ocorre só com os policiais. Outro dia mesmo, a imprensa noticiava
a falcatrua que funcionários da prefeitura paulistana faziam, valendo-se do
fato de terem a função de fiscalizar o pagamento do ISS. E há o mensalão, há o
mensalinho, etc. etc.
Mas
voltemos à polícia. Do mesmo modo que a existência de corruptos numa instituição
não significa que todos ali sejam corruptos, também há nas corporações
policiais muita gente correta, e essa gente é a maioria. Fora isso, devemos
lembrar que a polícia é uma instituição imprescindível à sociedade e, se é ruim
com ela, impossível sem ela.
Vou
dar o exemplo de um conhecido meu que tinha horror à polícia, e com razão,
porque foi preso e maltratado por policiais durante a ditadura militar. Pois
bem, sucedeu que, num fim de semana, quando ele e a mulher voltaram do sítio,
encontraram o apartamento saqueado: os ladrões haviam levado quase tudo.
Ficaram
perplexos. O que fazer? Não havia outra coisa a fazer, senão chamar a polícia. Foi
o que fizeram. E não é que a polícia prendeu os ladrões e recuperou quase tudo
o que eles haviam levado? Claro, nem sempre a polícia é eficiente mas, se não
se recorre a ela, vai recorrer a quem?
É isso
aí. Há um momento em que a polícia resolve. O policial não é policial porque lhe
deu na telha seguir essa profissão; a polícia foi criada pela sociedade porque,
sem ela, o convívio humano se tornaria inviável. Na verdade, ela existe porque
existe a lei, que é a garantia dos cidadãos, impede que fulano invada sua casa,
roube seus bens e até mate você. Pode ser que não ocorra, mas, quem o fizer,
será preso, processado e punido. Se não for punido, a culpa não é da polícia.
Já imaginou
uma cidade sem polícia? Lembra das favelas cariocas, antes da polícia
pacificadora? Meia dúzia de bandidos, armados e cruéis, faziam ali o que
queriam, apropriavam-se das residências alheias, estupravam as mocinhas e
impunham sobre todos os moradores a lei do cão. Com as UPPs, isso acabou.
Por
que então tanta gente é contra a polícia? Após as manifestações de junho de 2013,
quando centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra
governantes e políticos corruptos e incompetentes, grupos de baderneiros se
aproveitaram da situação para praticar vandalismo: quebraram agências bancárias,
saquearam lojas, queimaram bancas de jornal.
A
polícia teve que intervir, mas o vandalismo não parou. Centenas de baderneiros
foram presos pela polícia mas, horas depois, estavam soltos, porque a lei não
permite mantê-los presos. Resultado, as pessoas que protestavam contra os maus
políticos deixaram de sair às ruas porque as passeatas se transformaram em
batalhas entre policiais e vândalos. Mas sempre que alguém é chamado a opinar
sobre esses fatos, ainda que não apoie os baderneiros, critica a polícia, afirmando
que é violenta e despreparada para lidar com tais manifestações.
Acho
que já é hora de perguntar a essas pessoas se já se deram conta de que o
policial é gente como nós, tem mulher, filhos e não gosta de ser agredido com
pedras, rojões e canos de ferro. E tampouco quer morrer. Por falar nisso,
nesses últimos dois anos, aqui no Rio, dez policiais de UPPs foram mortos por
bandidos.
O
cara se faz policial porque necessita ganhar um salário, sustentar a família. E
nisso arrisca a própria vida. No caso das manifestações de rua, a polícia porta
armas não letais, e tem que usá-las. Ou deve sair correndo quando os vândalos
passam a agredi-la? E essa agressividade cresce a cada dia.
Mas
pega bem ser contra a polícia. Até o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria
da Presidência da República, outro dia, tomou o partido de manifestantes contra
os policiais, embora 20 deles tenham sido espancados e feridos. Se não tomarmos
jeito, os baderneiros vão ganhar essa guerra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário