terça-feira, 18 de março de 2014


18 de março de 2014 | N° 17736
DAVID COIMBRA

A hora da mudança

Ouvi o Cleo Kuhn dizer na Gaúcha que, quinta-feira, quando faltarem três minutos para as duas da tarde, o outono irromperá Porto Alegre adentro. Três minutos para as duas da tarde. Fiquei encantado com tamanha precisão. Na quinta-feira, às 13h57min, estarei atento como um dobermann. Quero ver a mudança no clima, no ambiente, na alma das pessoas e dos bichos.

O tempo é assim. Vai mudando as coisas devagar, a gente nem nota, até que, de repente, mudou.

Nas lonjuras do século 19, Balzac descobriu que a mulher muda aos 30 anos de idade. Quase 200 anos depois, mulheres e homens são outros. Amadurecem mais tarde, envelhecem mais tarde, morrem mais tarde. Mas algo continua igual: as mulheres MUDAM aos 30 anos de idade. Algumas para melhor, outras para pior, mas mudam. Esse limite, 30 anos, não é exato como o outono de Porto Alegre. A mudança pode ocorrer um pouco antes ou um pouco depois.

Uma amiga minha, porém, o que aconteceu com ela foi extraordinário. Foi no dia do aniversário. Por Deus. No dia do aniversário dela, depois que o último convidado cantou o último “de vida” do Parabéns a Você, ela se transformou. Virou outra mulher. No caso da minha amiga, sinto revelar que não foi uma mudança feliz. Não. O que se deu, naquela noite de simples comemoração, foi que ela simplesmente perdeu o viço. Era exuberante, era fresca como uma fruta pendente da árvore-mãe e, em um minuto, tornou-se baça. Quem entrou na festa foi uma menina, quem saiu foi uma mulher cansada. Nunca mais voltou a ser o que era.

Em que momento ocorre a virada? Em que momento você troca de condição? Era jovem, acordou um dia, olhou-se no espelho e concluiu: “Agora sou um velho”. Quando acontece isso?

O Grêmio está se tornando um time, estou vendo isso acontecer, estou esperando o momento da virada. Poderemos ver isso claramente? Seremos testemunhas dessa transformação, como fui, no aniversário da minha amiga?

Pode ser que ocorra também quinta-feira.


Quinta-feira chega, meia-noite e um minuto, o jogo na Argentina mal terminou e, pronto, está consolidado: dentro daquele vestiário encontra-se um time de futebol. Treze horas e cinquenta e dois minutos depois, o outono desce a calçada da Rua da Praia. Tudo isso na quinta-feira. Dia de mudanças.

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