terça-feira, 11 de março de 2014


11 de março de 2014 | N° 17729
LUÍS AUGUSTO FISCHER

50 anos

Em 1939, completaram-se 50 anos do golpe militar que implantou a República no Brasil; em 1980, fecharam 50 anos do golpe, com ajuda militar decisiva, que levou Getúlio ao poder. Nem em 1939, nem em 1980 se registraram discussões tão dramáticas sobre os episódios de meio século antes quanto as que agora, 2014, estão acontecendo, em relação às cinco décadas do golpe militar de 1964.

Quem estabeleceu essa conexão foi Elio Gaspari, dias atrás, em sua coluna. Li e fiquei com isso reboando na cabeça. Trata-se de uma verdade, em sentido geral. Em 1939, ninguém cogitava discutir visceralmente a República e, em 1980, ninguém debatia em pauta emocional o começo da era Vargas. E por que agora os ânimos se exaltam na consideração do golpe de 64?

Por muitos motivos, que diferenciam os três tempos. Tem a ver com a duração da presença militar no poder direto, mais de 20 anos no ciclo pós-64, bem ao contrário dos casos anteriores, em que militares tiveram papel decisivo no golpe mas em seguida deixaram o centro da cena. Outro motivo deve ser buscado na ação repressiva do poder contra os opositores, nos três casos bem diversa, e sem dúvida mais cruel na período recente.

Outro ainda terá a ver com o tipo de consciência crítica das três diferentes etapas do país: se compararmos o volume e a importância da opinião pública – jornais, sindicatos, pensamento acadêmico, artes e cultura –, quase não dá para comparar, tal a supremacia do volume atual frente aos demais.


Seja como for, vale renovar a profissão de fé na democracia. Não estamos vivendo um excesso de democracia, como já tem sido dito por gente saudosa de tempos autoritários: estamos vivendo a democracia, com instituições funcionando livremente, debate franco, posições se apresentando no cenário, liberdade – e, por isso, mesmo com a enunciação de todas as mazelas que agora conhecemos claramente, da corrupção às mazelas sociais. Nem completamos três décadas de vida democrática agora, e devemos saber o valor disso, para defendê-la de oportunistas de todos os matizes.

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