16 de março de 2014 | N°
17734
FABRÍCIO CARPINEJAR
Homem se apaixona fácil, mas ama difícil
Homem se apaixona fácil, o que
ele tem medo é de amar.
Mulher não se apaixona fácil, mas
não tem medo de amar.
São dois fusos diferentes. São
duas realidades em desacordo.
Homem logo se entrega para um
relacionamento, não mede esforços para ficar com alguém, renuncia sua vida e
seus prazeres mais essenciais, altera sua rotina. Na paixão, sua generosidade é
corajosa. Facilita as saídas aos bares e restaurantes, facilita a intimidade na
casa, facilita o arrebatamento. Nada incomoda, nada atrapalha, nenhum defeito é
contabilizado.
Sua complicação é quando passa a
amar, quando larga a fase da aventura e do desconhecimento dos meses iniciais
para fazer plano junto. Daí ele estaciona, emperra. Tanto que sofre horrores
para dizer o primeiro eu te amo. Tanto que sofre horrores para misturar as
escovas de dente. Tanto que sofre horrores para dividir as prateleiras. É como
se não pensasse até aquele momento.
Na paixão, ele não avalia as
separações anteriores, suas falhas de sistema, suas fobias de convivência.
Explode por intuição, desmemoriado. É vir o amor que ele recua, entra em
julgamento, contrai o olhar e economiza as palavras. É consolidar os laços que
se confunde, acumula receios e inventa desculpas.
A mulher é exatamente o
contrário, e bem mais coerente. Leva tempo para se apegar, questiona de saída,
é desconfiada na paixão, cética na paixão, contida na paixão. Sofre passo a
passo. Empenha malha fina da personalidade na apresentação. Sua instabilidade é
de imediato, sua crise de consciência é no começo. Quando descobre que gosta
realmente, é que se liberta e derruba suas defesas. É realizar projetos e
formular expectativas que se solta e se desinibe. Para ela, o amor acontece mais
natural do que a paixão. Paixão é choque, dói; amor é costume, cicatriza.
Homem diz “Não quero me
envolver”. A mulher diz “não quero me apaixonar”. As declarações são
representativas. Ele recusa intimidade após o contato, ela pretende evitar
qualquer contato, já que a intimidade não a assusta.
Homem mergulha para reclamar da
água. A mulher experimenta a água antes de entrar.
Homem tem primeiro certeza para
depois duvidar. A mulher duvida até cansar sua cautela.
Homem oferece tudo para retirar
gradualmente. A mulher esconde tudo para oferecer aos poucos.
Homem se mostra desembaraçado e,
em seguida temeroso. Mulher se apresenta temerosa e, em seguida, desembaraçada.
Homem decide rápido para
desmanchar lentamente sua convicção. Mulher demora a se decidir, mas não volta
atrás.
Homem é paixão. Mulher é amor.
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