12 de março de 2014 | N°
17730
MARTHA MEDEIROS
Para tudo
Areforma ortográfica é um assunto
que muitos já debateram e poucos aceitaram com resignação, tanto que, em vez de
as novas regras se tornarem obrigatórias no início de 2013, como estava
previsto, a obrigatoriedade foi adiada para 1º/01/2016, a fim de que todos
tenham tempo para se adaptar. Até lá, seguiremos divididos entre obedientes e
rebeldes, cada grupo colocando e retirando os acentos de acordo com seu grau de
inconformismo.
Eu estou no grupo dos obedientes,
já que fui criada para ser boa moça. Mas boas moças também têm seus dias de
falta de paciência, e hoje é um deles, portanto me permitam a reclamação: quem
teve a ingrata ideia de retirar o acento diferencial de para, do verbo parar?
Hoje, com a nova ortografia da língua portuguesa, só analisando o contexto da
frase para distinguir o verbo para da preposição para. Mas o contexto será
mesmo suficiente para eliminar qualquer dúvida? Não concordo, e você
provavelmente também não, se teve dificuldade de entender o que foi escrito
neste parágrafo – não é fácil mesmo fazer a diferenciação numa leitura rápida.
Para tudo, há uma solução, diria
um gramático.
Para tudo, que quero descer, digo
eu.
“Quando o trem de Porto Alegre
para São Paulo sai atrasado, ele não para em Curitiba.” Esta frase,
lamentavelmente, é fantasiosa, já que não temos trens de passageiros circulando
pelo país, mas é bem realista do ponto de vista ortográfico. É assim mesmo que
deve ser escrita, sem acento diferencial no “para em Curitiba”. Para desconsolo
de todos.
Acompanhe uma amiga minha: ela
não para em casa, e assim não encontra tempo para esperar o moço encarregado de
fazer reparos no seu telhado, que está apinhado de goteiras, a sala fica
encharcada, só seca quando a chuva para. E meu primo? Vive para cima e para
baixo, esquece de fazer as compras para a semana, não para empregada na casa
dele. Mas caduco mesmo está meu cachorro, que quando para de latir, é para
alertar que tem gente estranha parada junto à porta, ou seja, faz o contrário
da maioria dos cães, que late para alertar e só para quando o perigo passou.
Ficou claro para você?
Para mim a única coisa que está
clara é que fazia muito mais sentido quando escrevíamos que uma hora a chuva
pára, que empregada não pára em casa bagunçada, que cachorro pára de latir
quando não vê mais motivo para alertas e que tudo fica bem confuso quando uma
colunista tem seu dia de rebeldia e não para de reclamar – mesmo a reclamação
não servindo para nada.
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