18
de março de 2014 | N° 17736
EDITORIAIS
ZH
Educação sem mágica
A má
qualidade do ensino público no Brasil costuma ser justificada por razões tão óbvias,
que ninguém mais as questiona: os professores ganham mal, os alunos têm pouco
interesse pela escola e os governos não priorizam a educação como deveriam na
hora de aplicar os recursos oriundos dos impostos. Este contexto de
conformismo, porém, acaba encobrindo experiências educacionais bem-sucedidas
como a que o programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou no último domingo na
cidade de Cocal dos Alves, no interior do Piauí, um dos Estados mais pobres da
federação.
A
escola Augustinho Brandão acumula dezenas de medalhas em Olimpíadas de Matemática
e Química, além de prêmios nacionais de astronáutica, astronomia e física. No
Enem, está acima da média nacional. E em 2010 aprovou todos os alunos que
fizeram o vestibular. Qual é a mágica?
A
diretora Aurilene Vieira responde com singeleza: “A escola tem recebido
caravanas e caravanas com estudantes e estudiosos da educação para saber o que
acontece aqui. Eu digo: ‘Não precisa, não’. Basta que cada um faça o seu papel
e faça isso com engajamento. Seja professor porque você quer ser professor e não
porque lhe falta opção na vida.
Seja
gestor porque você quer conduzir aquela escola proporcionando o melhor para o
aluno, e não porque você quer fugir de uma sala de aula. Seja sistema porque
você tem ideias para contribuir e quebrar os paradigmas que forem necessários”.
Ou seja: não há mágica, nem plano de ensino milagroso: apenas trabalho e
comprometimento.
Parece
difícil de acreditar, mas os resultados dos alunos nas provas internas e em
concursos externos, somados aos depoimentos de pais e dos próprios estudantes,
não deixam dúvida. As famílias acreditam na escola como alternativa de ascensão
social para suas crianças e os estudantes demonstram prazer em aprender, gostam
do ambiente escolar.
“Nós
chegamos a ter instantes dentro desta escola em que tínhamos que expulsar os
alunos, no bom sentido. Aqui parecia que era o melhor lugar. O menino estudava
de manhã, mas ele queria ficar à tarde, queria ficar à noite, queria passar a
madrugada estudando, porque aqui ele se sentia bem”, conta Narjara Benício,
diretora regional.
O
primeiro passo para a excelência alcançada pela escola piauiense foi o
engajamento dos professores. Depois, a direção e os próprios mestres trataram
de convencer a comunidade de que uma escola pública pode, sim, oferecer educação
de qualidade e ao mesmo tempo ser um ambiente atrativo para a garotada. “Nosso
maior desafio foi fazer os alunos acreditarem nisso.
Alunos
filhos de pais analfabetos, da roça, que só tinham o que comer, que só dava
para o sustento, a roupinha ruim. Então para fazer esses meninos viajarem nesse
sonho, de que era possível, sem ter dinheiro, sem ter uma roupa boa, ir lá para
Teresina, para a capital, estudar lá. Foi necessário o sonho. Acreditar no
sonho. Quando a gente conseguiu fazer esse povo acreditar mesmo que era possível
estudar fora, se formar e mudar de vida, pronto” – resume a diretora Aurilene
Vieira.
Será
tão difícil seguir um exemplo desses?
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