14 de março de 2014 | N°
17732
EDITORIAIS
Livres para matar
Foi o mesmo crime, o mesmo
criminoso e pode-se dizer também que as vítimas os cidadãos que trabalham
honestamente, pagam corretamente seus impostos e não recebem qualquer proteção
do Estado também são as mesmas. Dez anos depois de matar o advogado Geraldo
Xavier, numa ação criminosa conhecida como saidinha de banco, o homicida
Jaérson Martins de Oliveira, desfrutando das regalias do regime semiaberto,
executou também o publicitário Laírson Kunzler para se apropriar do dinheiro
que ele carregava.
É elogiável o trabalho de
investigação da polícia, que chegou à autoria do crime após exaustivo exame das
imagens de câmeras de monitoramento espalhadas pela cidade, mas é revoltante e
assustador saber que todos continuamos expostos à sorte e ao humor de
delinquentes perigosos, favorecidos pela benevolência da legislação, pela
frouxidão do sistema judiciário, pela inoperância do sistema prisional e pela
insuficiência das forças policiais.
Ainda que o matador apontado pela
investigação policial tenha cumprido todos os trâmites legais para a progressão
no cumprimento da pena, é desarrazoado que um homicida cruel desfrute de total
liberdade para reincidir. Um, não: segundo informações das próprias
autoridades, 4 mil criminosos estão em prisão domiciliar no Estado por falta de
vagas no semiaberto e pela conhecida precariedade do regime fechado.
Seria ingenuidade pensar que num
contingente tão expressivo de delinquentes não haja outros matadores covardes
como o que tirou a vida do publicitário ou como a dupla que matou no mesmo dia
um motorista de lotação, nas proximidades do Estádio Olímpico.
É inquestionável que os piores
marginais se aproveitam da legislação liberalizante e da acomodação de alguns
magistrados, que se limitam a cumprir estritamente o que está escrito, sem se
dar ao incômodo de pedir, como é do seu direito, exames complementares antes de
autorizar a progressão de regime de condenados que cumpriram o lapso de tempo
legal e receberam atestado de bom comportamento da direção do presídio.
Cabe reconhecer que o Judiciário
também esbarra na falta de estrutura do Estado e do sistema prisional. Desde
que o exame psicológico deixou de ser exigência legal, ficou muito difícil
encaminhar um apenado para a avaliação, por inexistência de profissionais. Como
também faltam vagas nos presídios desumanos e superlotados, não resta
alternativa para os julgadores senão mandar para a rua ou para albergues desaparelhados
para proceder a devida vigilância sobre os presos.
Ficam, então, os assassinos,
latrocidas e homicidas livres para matar – e todos nós, potenciais vítimas,
ficamos desamparados, amedrontados, enjaulados em nossas casas e cada vez mais
revoltados com os nossos dirigentes políticos.
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