26
de março de 2014 | N° 17744
PAULO
SANT’ANA | PAULO SANTANA
O português do
restaurante
Aos
meus leitores que não gostam de futebol, peço que leiam até o fim esta coluna.
No fim, o assunto não é futebol.
Acontece
que não concordo absolutamente com a destinação de apenas 1,5 mil ingressos
para a torcida xavante na semifinal de hoje à tardinha na Arena.
Os
organizadores têm de ter flexibilidade nesta hora: se vão sobrar mais de 40 mil
lugares na Arena, como é que se comete o desperdício de designar apenas 1,5 mil
lugares para a torcida do Brasil?
Isto
não é arbitrariedade, isto é burrice, é seguir o livrinho não se importando com
as circunstâncias. Ou melhor, a pior das arbitrariedades vem pela burrice.
O
resultado é que poderiam vir assistir ao jogo ao redor de 10 mil torcedores
xavantes, que assim serão impedidos de ver seu time do coração.
Além
disso, perdem-se público e dinheiro com a vinda de apenas 1,5 mil xavantes.
Isso
é de um despropósito que beira a insânia.
E
não me venham dizer que a Brigada Militar não permitiria 10 mil torcedores
xavantes na Arena: o público não pode ser impedido de ir ao futebol por
decisões assim tão obtusas.
O
futebol tem o dever de atrair espectadores, não enxotá-los. Ou vão me dizer que
a Arena foi construída só para torcedores gremistas comparecerem?
Vou
mais adiante: só se admite limitação de torcedores no Gre-Nal para a torcida
visitante se os torcedores do clube mandante forem lotar o estádio. Se os
torcedores do clube local não forem lotar o estádio, não se deve limitar o
número de torcedores visitantes, inclusive no Gre-Nal.
Isso
me parece claro e meridiano. Só não vão entender assim mentes de inferior
intelecção.
Prova
dessa tese que estou defendendo: os 1,5 mil ingressos destinados à torcida do
Brasil foram esgotados em poucos minutos.
Ora,
temos de cessar nossa burrice na organização do futebol.
Fui
testemunha ocular do melhor exemplo dessa burrice de limitar o número dos
xavantes na Arena.
Em
1973, éramos mais de 300 jornalistas brasileiros a cobrir a excursão da seleção
brasileira de futebol à África e à Europa, a maior excursão da Seleção na
história, cerca de 16 países.
Terminada
a excursão, iniciamos a volta ao Brasil, com pouso para escala em Lisboa.
Descemos
os 500 brasileiros com a Seleção no aeroporto de Sacavém, Lisboa.
Todos
tínhamos fome e corremos para o restaurante-lancheria do aeroporto. Pois o
dono, um português, quando soube que chegávamos, mandou cerrar as portas do seu
restaurante.
Fomos
pedir-lhe energicamente explicações.
Resposta
do português: “Comigo é sempre assim, quando tem muito movimento o restaurante,
eu fecho as portas para evitar várias incomodações”. Com movimento, ele fechava
o restaurante.
Vai
ser assim no jogo de hoje. Como milhares de xavantes queriam assistir à
partida, limitaram o número dos ingressos.
É
demais...!!!
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