11
de março de 2014 | N° 17729
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Comida caseira
Rosa
convidou meu amigo para jantar. Prometeu que faria um prato especial.
– Vou
sair mais cedo do trabalho e cozinhar para você!
Estefan
sonhou com romance à moda antiga: meia-luz, mesa feita, fumaça de temperos e a
lenta e sensual dança do fogo de quem se dedica à culinária para agradar ao
convidado.
Ele
teria somente a missão de abrir o vinho e sorrir. A princípio, uma mulher
diferente, que não tinha medo de intimidade, evitava as tradicionais saídas aos
restaurantes e conversas impessoais.
Ele
tocou sua campainha pontualmente às 21h, carregando um ramalhete de flores e
bombons.
Ela
agradeceu, e logo desfez a magia do longo olhar chamando-o para dentro. A casa
não estava no clima de comédia romântica. Mais parecia um camarim de tragédia
grega. Bagunçada, excessivamente iluminada, com roupas espalhadas pelos cantos.
Estefan
estranhou, mas desligou os sensores críticos. Queria fruir, relaxar, aproveitar
o primeiro encontro. Dificilmente encontrava alguém caseiro, capaz de perder
tempo com rituais e preliminares.
Foi
quando Rosa o convidou para a cozinha.
Ele
entrou cheio de cesuras e sobrancelhas pedindo licença, lembrando os modos da
infância.
Agitada
e com respiração cortada, ela abriu o congelador e questionou à queima-roupa:
– Ravióli
ou canelone?
– Canelone!
– exclamou sem pensar muito.
Rosa
tirou o papel da bandeja, raspou o gelo e enfiou rapidamente o congelado no
microondas.
Zás,
vapt, vupt!
Enquanto
o prato girava seus 15 minutinhos no interior do aparelho, ele procurava
admitir que talvez aquele seria o decisivo menu da noite.
Observou
ao derredor. Não havia nenhuma segunda opção, nenhuma salada, nenhuma comida
enredada pela preguiça amorosa das mãos. O fogão estava lacrado com a tampa de
vidro, intocado, como um piano abandonado.
A
partir daquele instante, percebeu que se envolvera com o perfil múltipla
escolha.
Tudo
o que Rosa falava era uma falsa dúvida, já que nem esperava que ele respondesse.
Na
hora de servir:
– Refrigerante
ou suco?
Na
hora de comer:
– Tevê
ou música?
Na
hora de transar:
– Cama
ou sofá?
Na
hora de gozar:
– Amor
ou amizade?
Na
hora de se lavar:
– Chuveiro
ou banheira?
O
amigo perplexo, tonteado, apenas conseguiu responder todas as perguntas com uma
outra:
- Porta
ou janela?
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