quinta-feira, 13 de março de 2014


13 de março de 2014 | N° 17731
CAROL BENSIMON

Mas eu gosto de Lana Del Rey

Se alguém me acusa de só apreciar bandas suecas com 10 camadas melancólicas de guitarra e um vocal distorcido; se alguém insinua que Ela, novo filme de Spike Jonze, não me arrebatou justamente porque arrebatou gente demais de minha geração, e eu sinto algum prazer estranho em contrariar; se alguém me chama de elitista, esnobe, intelectualoide, ou diz que tenho má vontade com a neozelandesa Lorde, que não vi Breaking Bad, True Detective ou Grammy, que não fiz live tweeting de tapete vermelho, UFC ou Super Bowl, o que me resta é dar uma risada, olhar bem nos olhos de meu interlocutor, e disparar: mas eu gosto de Lana Del Rey.

E é verdade. Eu gosto de Lana Del Rey, a garota fabricada de Los Angeles, aquela voz, meu deus, que voz, a cultura norte-americana amontoada de qualquer jeito em videoclipes de cinco minutos com dezenas de milhões de visualizações, o pacto de nunca sorrir para a câmera, eu pirei com Video Games no ano passado, eu ouço Ride na estrada e é um pouco catártico, e por Lana Del Rey eu relevo versos como “my pussy tastes like pepsi cola” e simplesmente curto a atmosfera.

Claro que gosto também de outras coisas de estrondoso sucesso. Posso ouvir sem nenhum traço de ironia velhos discos do No Doubt, Silverchair, Sheryl Crow, mas tudo isso você põe na conta do saudosismo, e o perdão vem de imediato. Lana Del Rey é o agora. Portanto, meu prazer culpado. Ela me deixa vulnerável, demasiado humana, contraditória. No vídeo estendido de Ride (tinyurl.com/o53lgmy), Lana conta aos sussurros uma historinha que você parece já ter ouvido um milhão de vezes. O clipe tem sinais de misoginia, armas de fogo, cocares sem sentido, bandeira americana e uma moral da história, mas ai ai, é tão legal.

Lana Del Rey tem algo de brega. Unhas postiças. Ela se balança num pneu no meio do deserto. Onde está preso o pneu? Depois aparece num posto de gasolina fumando e usando uma jaqueta com franjinhas. Franjinhas! Mas, ai ai, eu estou ouvindo Ride há 30 minutos.


Sentimentos à parte, Lana é também minha cartada, minha defesa, meu argumento final. “Mas eu gosto de Lana Del Rey”. Meu interlocutor então se desarma. “Lana Del Rey? Jesus, como?”. E então, num passe de mágica, cedo a ele o papel de intolerante.

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