24
de março de 2014 | N° 17742
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Antonio Candido
Se a
idade significa algo, é bom atentar para o ano de nascimento de Antonio
Candido: 1918, o que significa que viveu as principais transformações
políticas, artísticas, filosóficas, científicas, ideológicas e sociais do século
20. Isso aconteceu a muita gente, mas foi este professor da USP, com sua
lucidez analítica, o que melhor soube aproveitar esta já longa vida. Sua
atividade intelectual voltou-se preferentemente às letras, sendo mais conhecido
como o autor dos fundamentais Formação da Literatura Brasileira e Literatura e
Sociedade, livros incontornáveis quando se pensa sobre o tema.
O
professor deu há algum tempo uma luminosa entrevista ao semanário alternativo
Brasil de Fato. O tom geral é de balanço de uma vida e de um pensamento, mas
não só. Ele se permite, no decorrer da fala, a dar opiniões contundentes,
inclusive avaliando de modo opinativo sua própria trajetória, mostrando sua
evolução, na qual, entretanto, guardou uma coerência: a fé no socialismo – nem
tanto como prática, mas como doutrina. É capaz de dizer: “O que se pensa que é
a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele”, entre outras
frases – que não são de efeito.
A
destacar, nos escritos (e na fala) de Antonio Candido a extrema simplicidade e
bom humor. Quem já conversou com ele sabe que se trata de um homem simples (e
que, a propósito, sabe exercer a esquecida arte de ouvir os outros). Pois é com
essa simplicidade que ele diz que não lhe interessam as novidades. Não leu algo
novo nos últimos 30 anos. Dedica-se, isso sim, a reler. O que pode arrepiar os
novidadeiros é, para Antonio Candido, uma prática com a qual ele sabe conviver
sem qualquer trauma.
Diz
ele, também, que doou quase toda sua biblioteca de 15 mil livros. Pois o
despojamento levou-o à evolução de seu método de análise literária; partiu de
uma visão fechada, puramente sociológica, até que, conhecendo a escola do new
criticism norte-americano, partiu para análises em que a própria obra ditava a
perspectiva da análise. Foi o “ovo de Colombo”, diz ele.
Para
um homem que afirma serenamente haver parado na máquina de escrever e no
telefone, é muita audácia, que nem sempre a têm os vidrados na última
tecnologia. Podemos imitá-lo: vamos reler Antonio Candido, o que não gosta das
novidades. Isso fará com que entendamos melhor o que de novo circula por aí.
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