25
de março de 2014 | N° 17743
LUÍS AUGUSTO FISCHER
10, 20, 30, 40, 50
A 10
anos do Golpe de 1964, a
Seleção Brasileira fez feio na Copa do Mundo, na Alemanha. A oposição armada ao
regime estava esfacelada, a censura imperava sobre meios de comunicação e as
artes, Geisel era aclamado pelo congresso amordaçado, mas crescia a oposição no
parlamento e na opinião pública. Brossard era eleito senador, numa memorável
campanha.
A 20
anos do golpe, a opinião pública estava mobilizada pelas Diretas, para retomar
o direito de eleger o presidente, os governadores e os prefeitos de capitais e
cidades de fronteira. A arte já respirava em liberdade, a garotada fazia rock e
empolgava a nova geração, cantando Inútil, do Ultraje a Rigor, e ouvia Vai
Passar, o lindo samba-enredo de Chico Buarque. Passou, mas não rolaram as
Diretas.
A 30
anos do golpe, Paulo Francis publicou um livro de balanço que representou sua
inflexão em direção ao conservadorismo que até então ele ironizava. Outro
Paulo, César Farias, tesoureiro de Collor (já derrubado pelo parlamento,
naquela altura), ainda respirava e penava para esconder os rastros de muita
coisa. Fernando Henrique foi eleito presidente, após surfar na desejadíssima
estabilização da moeda brasileira.
A 40
anos do golpe, morreu Brizola, protagonista dos anos anteriores a 1964 e
posteriores a 1979, quando retornou ao país, junto com muitas lideranças e militantes
de esquerda. Lula estava no poder, era questionado pela oposição mas seguia
firme, porque não havia golpistas com força suficiente. A internet já estava
instalada no centro de nossa vida.
A 50
anos do golpe, a internet se tornou indispensável na rotina. A oposição
política se articula para viabilizar uma candidatura forte, parte importante da
imprensa esculacha o governo federal, de vez em quando ultrapassando regras
defensáveis, mas ele continua muito apoiado pelos cidadãos. Salvo umas poucas dezenas
de patéticas pessoas, ninguém pensa em golpe. Disputar a opinião, querer
conquistar ou manter o poder, ser submetido a arguição política e até mesmo
judicial – tudo isso é tão normal, tão desejável, tão saudável.
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