sábado, 22 de março de 2014


23 de março de 2014 | N° 17741
PAULO SANT’ANA

Meu estreito cardápio

Assistindo na semana passada a uma palestra do Dr. Jorge Gross no anfiteatro do Hospital de Clínicas sobre alimentação saudável, cheguei em primeiro lugar à conclusão de que a alimentação que faço não é saudável e que só me alimento daquilo de que gosto.

Estou frito, não gosto de verduras. Quando me oferecem verduras em qualquer lugar, respondo a meus amigos: “Não sou coelho”.

Sou um animal das massas. Traço lasanhas, nhoques, espaguetes, raviólis, são meus orgíacos festins.

De salada, como só tomate com cebola. E alface umas duas vezes por ano tão somente.

Gosto de galeto, gosto de polenta, gosto de suculentos filés à parmegiana.

E gosto acima de tudo de churrasco, de preferência de costela gorda de ovelha, mas saboreio muito bem uma picanha ou um entrecôte gordos.

Não gosto de rins, não tolero nabos e rabanetes. E olho, no churrasco, meio enviesado para o vazio.

De vez em quando, quando me falta apetite, lasco uma sopa de legumes ou de galinha, desses pacotes de sopa que a gente faz rapidamente em casa.

Gosto de cerveja, somente à refeição. Gostava de vinhos, mas perdi esse costume.

Muita Coca-Cola zero e muitos sucos de frutas desses que a gente adquire em pacotes nos supermercados fazem parte de minha dieta.

A conclusão é de que não sou um bom gourmet e que não balanço bem minha alimentação, a julgar pela exposição do Jorge Gross na semana passada.

E como já expliquei ontem que o único prazer que me resta na vida atualmente é a comida, vou lidando com os pratos da minha preferência todos os dias, um dia é um, outro dia é outro, que não tolero comer o mesmo prato dois dias seguidos. Como meu cardápio, já viram, é estreito, tenho de me equilibrar nos raros pratos que insisto em devorar.

Raramente aceito um pedaço de fígado de boi, raramente belisco uma ostra, com a sensação de que sou um imbecil ao não gostar de ostras, tal a cara de alegria que fazem os que às vezes comem ostras à minha mesa.

Escargot, nem pensar. Lula, nem pensar. Lagosta, nem pensar, a não ser uma lagosta que me assa no espeto o Pedro Sirotsky quando, raramente, vou a Florianópolis.

Sendo assim, sou culinariamente um inculto, um analfabeto.


E como eu gostaria de ser um poliglota em culinária. Então, o único prazer que me restou na vida, que é comer, se tornaria para mim em mais que um prazer, num orgasmo.

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