23
de março de 2014 | N° 17741
PAULO
SANT’ANA
Meu estreito
cardápio
Assistindo
na semana passada a uma palestra do Dr. Jorge Gross no anfiteatro do Hospital
de Clínicas sobre alimentação saudável, cheguei em primeiro lugar à conclusão
de que a alimentação que faço não é saudável e que só me alimento daquilo de
que gosto.
Estou
frito, não gosto de verduras. Quando me oferecem verduras em qualquer lugar,
respondo a meus amigos: “Não sou coelho”.
Sou
um animal das massas. Traço lasanhas, nhoques, espaguetes, raviólis, são meus
orgíacos festins.
De
salada, como só tomate com cebola. E alface umas duas vezes por ano tão
somente.
Gosto
de galeto, gosto de polenta, gosto de suculentos filés à parmegiana.
E
gosto acima de tudo de churrasco, de preferência de costela gorda de ovelha,
mas saboreio muito bem uma picanha ou um entrecôte gordos.
Não
gosto de rins, não tolero nabos e rabanetes. E olho, no churrasco, meio
enviesado para o vazio.
De
vez em quando, quando me falta apetite, lasco uma sopa de legumes ou de
galinha, desses pacotes de sopa que a gente faz rapidamente em casa.
Gosto
de cerveja, somente à refeição. Gostava de vinhos, mas perdi esse costume.
Muita
Coca-Cola zero e muitos sucos de frutas desses que a gente adquire em pacotes
nos supermercados fazem parte de minha dieta.
A
conclusão é de que não sou um bom gourmet e que não balanço bem minha
alimentação, a julgar pela exposição do Jorge Gross na semana passada.
E
como já expliquei ontem que o único prazer que me resta na vida atualmente é a
comida, vou lidando com os pratos da minha preferência todos os dias, um dia é
um, outro dia é outro, que não tolero comer o mesmo prato dois dias seguidos.
Como meu cardápio, já viram, é estreito, tenho de me equilibrar nos raros
pratos que insisto em devorar.
Raramente
aceito um pedaço de fígado de boi, raramente belisco uma ostra, com a sensação
de que sou um imbecil ao não gostar de ostras, tal a cara de alegria que fazem
os que às vezes comem ostras à minha mesa.
Escargot,
nem pensar. Lula, nem pensar. Lagosta, nem pensar, a não ser uma lagosta que me
assa no espeto o Pedro Sirotsky quando, raramente, vou a Florianópolis.
Sendo
assim, sou culinariamente um inculto, um analfabeto.
E
como eu gostaria de ser um poliglota em culinária. Então, o único prazer que me
restou na vida, que é comer, se tornaria para mim em mais que um prazer, num
orgasmo.
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