sexta-feira, 28 de março de 2014

Jaime Cimenti

O revolucionário poder do humor

Humor é coisa séria, do médico, psicanalista, escritor e articulista porto-alegrense Abrão Slavutzky apresenta, antes de tudo, através de um verdadeiro tratado, mas muito bem-humorado, um panorama inédito, criativo e provocativo do revolucionário poder do humor. A obra resulta de três décadas de estudo do autor e seu fio condutor é a leveza.

Abrão constrói uma história cultural do humor, na qual discorre, entre dezenas de tópicos, sobre o poder libertador dos filmes de Charles Chaplin, a sabedoria de Dom Quixote, o humor de Woody Allen, o nascimento e o desenvolvimento do humor infantil e a linda obra do escritor Scholem Aleichem, que nos deixou o inesquecível personagem Tevye, o leiteiro, do livro, peça de teatro e filme O violinista no telhado.

Rir sempre foi o melhor remédio, e os bons médicos sempre recomendaram a terapia do sorriso. O povo judaico, de modo muito especial, sempre soube da importância transcendental do humor, até como meio de sobrevivência, em meio a uma trajetória de muitos sobressaltos, perseguições e barbáries. Freud com a psicanálise, claro, não poderia ter deixado de tratar do tema, e Abrão Slavuzky enfoca-o e reflete sobre a visão do mestre.

Como disse o prefaciador Renato Mezan, Abrão nos convida a uma tripla viagem: pela história da cultura, pelas condições psicológicas que favorecem a eclosão do humor ou a ela se opõe e pela intimidade do consultório de um analista.

O livro impressiona pelo tamanho da pesquisa, pela profundidade, pela clareza e, também, pela generosidade com a qual oferece suas experiências pessoais e profissionais, como psicanalista, sobre situações em que o humor foi essencial para sua vida. Enfim, Humor é coisa séria é dedicado a todas as pessoas que já tenham sentido a necessidade de sorrir diante dos assombros e das tristezas da vida, como fizeram, por exemplo, os judeus nos campos de concentração. Ou, como fizeram muitos humoristas brasileiros, nos períodos das ditaduras para superar as barras-pesadas. Brinque de ser sério, leve a sério a brincadeira, disse Rita Lee, numa de suas canções.


Como está dito na apresentação do livro, parafraseando o grande italiano Ítalo Calvino, “num mundo pleno de tragédias, devemos tentar identificar aquilo que, em meio ao trágico, é tragicômico ou cômico, e preservar o humor”. Abrão preservou o humor. É muito e é essencial para essa vida. Arquipélago Editorial, 344 páginas, www.arquipelagoeditorial.com.br. 

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