Jaime
Cimenti
O revolucionário poder do
humor
Humor
é coisa séria, do médico, psicanalista, escritor e articulista porto-alegrense
Abrão Slavutzky apresenta, antes de tudo, através de um verdadeiro tratado, mas
muito bem-humorado, um panorama inédito, criativo e provocativo do
revolucionário poder do humor. A obra resulta de três décadas de estudo do
autor e seu fio condutor é a leveza.
Abrão
constrói uma história cultural do humor, na qual discorre, entre dezenas de
tópicos, sobre o poder libertador dos filmes de Charles Chaplin, a sabedoria de
Dom Quixote, o humor de Woody Allen, o nascimento e o desenvolvimento do humor
infantil e a linda obra do escritor Scholem Aleichem, que nos deixou o inesquecível
personagem Tevye, o leiteiro, do livro, peça de teatro e filme O violinista no
telhado.
Rir
sempre foi o melhor remédio, e os bons médicos sempre recomendaram a terapia do
sorriso. O povo judaico, de modo muito especial, sempre soube da importância
transcendental do humor, até como meio de sobrevivência, em meio a uma
trajetória de muitos sobressaltos, perseguições e barbáries. Freud com a
psicanálise, claro, não poderia ter deixado de tratar do tema, e Abrão Slavuzky
enfoca-o e reflete sobre a visão do mestre.
Como
disse o prefaciador Renato Mezan, Abrão nos convida a uma tripla viagem: pela
história da cultura, pelas condições psicológicas que favorecem a eclosão do
humor ou a ela se opõe e pela intimidade do consultório de um analista.
O livro
impressiona pelo tamanho da pesquisa, pela profundidade, pela clareza e,
também, pela generosidade com a qual oferece suas experiências pessoais e
profissionais, como psicanalista, sobre situações em que o humor foi essencial
para sua vida. Enfim, Humor é coisa séria é dedicado a todas as pessoas que já
tenham sentido a necessidade de sorrir diante dos assombros e das tristezas da
vida, como fizeram, por exemplo, os judeus nos campos de concentração. Ou, como
fizeram muitos humoristas brasileiros, nos períodos das ditaduras para superar
as barras-pesadas. Brinque de ser sério, leve a sério a brincadeira, disse Rita
Lee, numa de suas canções.
Como
está dito na apresentação do livro, parafraseando o grande italiano Ítalo
Calvino, “num mundo pleno de tragédias, devemos tentar identificar aquilo que,
em meio ao trágico, é tragicômico ou cômico, e preservar o humor”. Abrão
preservou o humor. É muito e é essencial para essa vida. Arquipélago Editorial,
344 páginas, www.arquipelagoeditorial.com.br.
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