sábado, 15 de março de 2014


16 de março de 2014 | N° 17734
O CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA

O melhor de todos os nomes de mulher

Gosto de nomes de mulheres com vogais explosivas. Débora. Bárbara. Mulheres proparoxítonas. São nomes bons para personagens.

“Naquela noite, Débora espetou um olhar oblíquo e acastanhado no fundo dos meus olhos assustados, e ronronou:

– Hoje é o seu dia de sorte, garoto.”

Ainda escrevo uma história assim.

A Rainha do IAPI chamava-se Débora. Era um pouco mais velha do que nós, era linda, era soberana como toda rainha deve ser e nunca, jamais, em tempo algum nos deu a menor bola murcha, no que estava absolutamente certa – Débora, para qualquer um de nós, seria como o INSS: inadministrável.

Imagino que Débora, hoje, deva estar vivendo em Montecarlo, casada com algum empresário alemão riquíssimo. Ou com algum Prêmio Nobel de qualquer coisa. Não, não, Débora não aceitaria menos do que um Prêmio Nobel. Se hoje Débora for uma funcionária, se assinar livro-ponto, se for casada com um socialista, se receber salário, se não estiver pelo menos a palmo e meio dos píncaros da glória, por favor, não me contem. Não azedem o meu doce passado.

Isso de nomes. Os romanos em geral tinham três: o prenome, o nome e o cognome. Marco Túlio Cícero. Durante a República havia só 18 prenomes, por isso eles usavam o cognome para se diferenciar. Podiam acoplar quantos cognomes quisessem, uns sobre os outros, inclusive repetindo-os.

Descobri, num livro, um cônsul romano do II século a.C. que se denominava Quinto Pompeu Senecio Róscio Murena Coelho Sexto Júlio Frontino Sílio Deciano Caio Júlio Êuricles Herculano Lúcio Vibúlio Pio Augustano Alpino Bélico Solers Júlio Aper Ducênio Próculo Rutiliano Rufino Sílio Valens Valério Níger Cláudio Fusco Saxa Amintiano Sósio Prisco, mas todo mundo o chamava de Zé.

O nome original de Roma era Sete Montes. Em cerimônias religiosas herméticas, mas muito herméticas, os sacerdotes se referiam à cidade pelo seu palíndromo: Amor.

Uma vez um tribuno revelou esse segredo e foi crucificado. Os homens do WikiLeaks se dariam mal, se fossem romanos.

Nomes de mulheres são mais bonitos do que os de homens. Admiro o Olívio Dutra, que teve a coragem de colocar no filho o nome do libertador dos escravos da Roma republicana: Espártaco. Nome forte e raro.

Aliás, o general que finalmente derrotou Espártaco, Crasso, teve seu nome eternizado não por essa vitória, mas por uma derrota. Ele errou ao atacar os terríveis partos, teve suas legiões dizimadas, foi morto e, desde então, um erro grave é chamado de “erro crasso”. Benfeito.

Gosto do libertador Espártaco e gosto também de outro libertador, Emiliano Zapata. Quase pus no meu filho o nome de Emiliano. Se tiver outro, quem sabe?

Mas preferia dar nome a uma menina. Tão lindos os nomes de meninas, tão sonoros.

Bruna é morena; Yasmin é uma flor; Vanessa, uma borboleta; e Melissa, abelhinha. Bianca, simplesmente, é branca, Sofia é o nome da sabedoria, Beatriz faz feliz, enquanto Márcia faz a guerra e Laura, por fim, é a vitoriosa.

Catarina. Sempre quis chamar minha filha de Catarina, hoje não tenho mais tanta certeza. Catarina é casta. Catarinas foram grandes rainhas. Catarina de Médici era florentina e ensinou a sofisticação a Paris. Catarina, a Grande, era alemã, reinou sobre todas as Rússias e, de casta, nada tinha – precisava repoltrear-se, espadanar-se e refocilar-se no pecado carnal pelo menos seis vezes ao dia, ou seu corpo imperial não se saciava.

Virgínia, obviamente, é virgem, mas me parece cínico, nos dias de hoje. Valéria é cheia de saúde, mas era o nome de Valéria Messalina, que, além de saúde, tinha muita disposição, a ponto de se tornar sinônimo de luxúria.


Cleópatra é a glória do pai, mas estaria depositando muita responsabilidade nos ombrinhos da menina. Meu amigo Zé Pedro Goulart deu à filha o nome da cidade luz, Paris. Bonito. Bonito. E, agora, pensando no Zé Pedro e em sua bela filhinha, concluo que o nome da maior cidade da civilização talvez seja o mais perfeito nome de mulher: Roma, a cidade eterna, pode bem ser uma mulher, qualquer mulher, que, em segredo, chama-se Amor.

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