15 de março de 2014 | N°
17733
NÍLSON SOUZA
Estranhos beijos
Faz sucesso na internet, com mais
de 25 milhões de visualizações quando comecei a escrever este texto, um vídeo
chamado First Kiss (Primeiro Beijo), com cenas de 20 casais se beijando. O
inédito do filme assinado pela cineasta Tatia Pilieva, a pedido de uma grife de
roupas, é que as pessoas escolhidas para as cenas não se conheciam, nunca
haviam se visto antes.
São estranhos colocados frente à
frente com o desafio de se beijar na boca – uma gesto historicamente reservado
à intimidade, embora tenha se tornado corriqueiro nesta era de exibicionismo
explícito que estamos vivendo. Adolescentes festeiros, especialmente, passaram
a incluir beijos fortuitos nos seus rituais de passagem, na maioria dos casos
apenas para contar aos amigos e para autopromoção nas redes sociais.
Mas beijo é beijo – a maior
expressão de ternura humana, sempre que consensual, evidentemente. É exatamente
isso que mostra o vídeo. As pessoas submetidas à experiência aproximam-se
constrangidas, trocam cumprimentos tímidos, fazem gracinhas, riem amarelo,
baixam a cabeça, tocam-se com cuidado, até que rola o encontro de lábios.
Então, tudo se transfigura. O que era estranho e pouco natural transforma-se
magicamente em proximidade, carinho, confiança mútua e entrega. Depois do
primeiro toque, não há mais estranhamento. Siameses momentâneos, homens e
mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres, todos suspendem suas
individualidades por incontáveis segundos e passam a respirar o mesmo ar de
cumplicidade.
Comovem aqueles estranhos
beijoqueiros. A sucessão de encontros habilmente editada me fez lembrar a cena
final de Cinema Paradiso, uma inesquecível sequência de beijos censurados pelo
padre da cidade, que o operador cortou de filmes célebres e transformou numa
espécie de documentário amoroso da história do cinema. Difícil não chorar.
Alguém já disse que o beijo é a
única linguagem verdadeira no mundo. Mesmo quando as pessoas não se conhecem,
como mostra o curioso vídeo, o entendimento é praticamente instantâneo,
dispensa palavras. Não há momento de silêncio mais revelador, como bem flagrou
o poeta chileno Pablo Neruda: “Num único beijo saberás tudo aquilo que tenho
calado”.
Beijos são marcas indeléveis na
trajetória humana. Tanto que já inventaram até um Dia Mundial do Beijo, que
algumas pessoas celebram em abril, outras em junho.
Na dúvida, celebre-o hoje mesmo.
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