sexta-feira, 14 de março de 2014

Jaime Cimenti

Se acalma, Brasil!!

De 2009 a 2013, no Brasil, a venda de tranquilizantes da classe dos benzodiazepínicos, como Rivotril, Valium e Lexotan, aumentou a cada ano. Em 2009, foram comercializadas 12 milhões de caixinhas. Em 2013, 17 milhões. Aumento de 42%, segundo o IMS Health. Não é brinquedo não. É muito psicotrópico. Na Europa, na última década, em nossa contramão, a venda de tais remédios caiu cerca de 30%. Será que o brasileiro já não está tão calmo e feliz?

Será que a vida tumultuada, especialmente nas grandes cidades, está mesmo de amargar? Será que as pessoas não têm paciência, não querem suportar a mínima tristeza ou dor? E se o Brasil perder a Copa? Tais medicamentos são eficientes, rápidos, alguns bem econômicos, mas podem causar dependência, falhas de memória e sonolência, entre outras coisas, se não utilizados adequadamente.

É preciso ficar de olho numa certa glamorização do consumo dos calmantes, no uso por anos a fio, especialmente por jovens, e na falta de receitas e  controles adequados. O Rivotril foi o segundo remédio mais vendido em 2013, atrás apenas do anticoncepcional Microvlar. O fato fala por si. Entre 1998-2008, os medicamentos mais vendidos eram Cataflam, Novalgina, Hipoglós e Neosaldina. Pois é, depois dos tempos de antidepressivos famosos como o Prozac, agora parece que entramos na fase meio intranquila dos tranquilizantes.

O Ministério da Saúde e entidades como a Associação Brasileira de Psiquiatria estão de olho e, já este ano, devem ser feitas campanhas públicas nas mídias sociais. Já não é sem tempo. De repente a vida ficou veloz demais, as pessoas não têm ou não dão tempo para si ou para os outros e aceleram o maquinismo psíquico de si e dos outros, tipo assim, Fórmula Um.

Não sei se ainda dá tempo de tirar o pé do acelerador. Tomara que sim. Alguém disse que o tempo se vinga das coisas que são feitas sem a colaboração dele. Dar tempo ao tempo. Será que ainda dá? Ou será que até o tempo atual está com pressa louca? Respirar lento, aceitar o doce e o amargo dos dias, caminhar em vez de correr tanto e dar tempo para as essências, que não ligam muito para o tempo, quem sabe?

Quem sabe o uso de remédios e de bebidas com moderação. Rir ainda é o melhor remédio. Mesmo e especialmente quando a gente acha que estava melhor quando estava péssimo. Se não der para rir, especialmente de nós mesmos, pelo menos podemos achar que o melhor remédio é viver, simplesmente viver, mais simples, mais lento, sem maiores aditivos.


Os preciosos depoimentos de personagens diretamente envolvidos nos acontecimentos, como os dos generais Olympio Mourão Filho e Ladário Pereira Teles, dão um toque especial à obra e permitem que os leitores tenham diante de si um panorama verdadeiro e amplo sobre as origens e os desdobramentos dos fatos que redundaram nos anos de chumbo. A primeira edição deste clássico é de 1975, feita por iniciativa do lendário editor Ênio Silveira, para a Editora Civilização Brasileira. A L&PM Editores publicou edições em 1978, 1980 e, agora, a poucos dias do aniversário de 50 anos do golpe, apresenta esta oportuna quarta edição, permitindo  a todos uma visão realista da história brasileira, de 1961 a abril de 1964.

Na apresentação da obra, escreveram os editores: “Hélio Silva foi narrador, personagem e testemunha dessa história, com a autoridade de um intelectual que, no dizer de Antônio Houaiss, foi dos mais destacados entre os estudiosos brasileiros (do que quer que seja) e merece a consagração de todos os seus compatriotas”. Mais não é preciso dizer sobre um trabalho que tomou dez anos do autor e de seus colaboradores, de 1964 a 1974, que não foi contestado no momento da publicação e muito menos depois. Enfim, um registro essencial, que mostra como tudo começou.


L&PM Editores, 366 páginas, www.lpm.com.br.

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