27
de março de 2014 | N° 17745
L.F.
VERISSIMO
Boas-pintas
A
foto do Bellini levantando a taça no final da Copa do Mundo de 58, na Suécia, a
primeira que nós ganhamos, virou ícone instantâneo. De todas as imagens que
ficaram daquela Copa sem TV – o Garrincha fazendo vários Joões dançarem, o Didi
pegando a bola no fundo do nosso gol depois que a Suécia marcou primeiro, no último
jogo, e caminhando com ela embaixo do braço como um pai carregando uma criança
malcriada pra casa, o lençol do Pelé sobre um sueco atônito antes de marcar o
mais bonito dos seus seis gols na competição –, a do gesto triunfal do Bellini
foi a que mais ficou.
Tanto
que, dizem, nas convocações para as Copas futuras houve a preocupação de se
prever a repetição da cena: quem levantasse a taça teria que ser uma figura
igualmente hierárquica e bonita
Na
Copa seguinte – 62, no Chile –, o Bellini estava na delegação, mas o titular
foi o paulista Mauro, que também era alto e, como se dizia na época, boa-pinta,
e fotogênico. Foi ele quem levantou a taça. Não sei se é verdade, mas contavam
que depois do Bellini o quesito “boa-pinta” passou a ser critério para escolha
do capitão, ou pelo menos de um dos zagueiros, da Seleção.
Só isto
explicaria a convocação, por exemplo, do baiano Fontana, um jogador
supostamente medíocre, mas bonito, que fazia dupla com o Brito no Vasco da Gama
e não faria feio imitando o Bellini de 58 numa vitória no México em 70. Fontana
não chegou a jogar na Copa do México, que eu me lembre. Brito e Piazza foram os
nossos zagueiros de área. Mas diziam que, no caso de a vitória do Brasil na
final estar assegurada, o Brito, com sua cara de homem das cavernas, seria
rapidamente substituído pelo Fontana antes do fim do jogo só para este ser
fotografado levantando a taça. Mas isto já deve ser maldade.
Nada
a ver, mas também dizem que uma das condições para chegar a comandante de aviões
de passageiros é ter voz de comandante. Duvido que exista mesmo esta norma, mas
a verdade é que até hoje não ouvi nenhum comandante de voz fina. O preconceito
não se justificaria: nada impede que um piloto de voz fina seja mais confiável
do que um de voz grossa. Mas entende-se a preocupação.
Os
cursos de pilotagem incluiriam aulas de dicção e impostação de voz, ou então – também
se especula – alguns aviões teriam, na cabine de comando, um locutor cuja única
função seria dirigir-se aos passageiros numa voz máscula e firme, de quem estará
nos controles e saberá o que fazer não importa a situação, no lugar de um
piloto esganiçado que poderia causar pânico entre os passageiros com sua
primeira comunicação. Para voar com segurança você precisa imaginar que o
comandante é o William Bonner.
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