sábado, 15 de março de 2014


16 de março de 2014 | N° 17734
PAULO SANT’ANA

Os corvos crocitam

Não lhes parece estranho que os sapos coaxem? Ou lhes parece então muito mais estranho que os carneiros balem?

É que a língua portuguesa classificou tim-tim por tim-tim todos os sons emitidos pelas gargantas dos animais.

O termo mais excêntrico entre todos os animais é sem dúvida o dos urubus: eles crocitam? Ora bolas, crocitam.

Como diz o poeta Augusto dos Anjos, “um urubu pousou na minha sorte”.

E eu respondo que é verdade e que todas as noites ouço o urubu, pousado no meu ombro e crocitando.

Sendo assim, a cobra sibila e a galinha cacareja. O porco grunhe e o pássaro chilreia.

O lobo uiva na encosta da montanha enquanto o leão ruge. O ganso e o pato grasnam.

Já a nossa divina e bíblica pomba nada mais faz do que arrulhar, mais adiante o cabrito berra e o macaco guincha.

O inseto zumbe e gato mia, o cão late.

Já a hiena, esse bicho horrível e maldito, ulula.

O tigre, pensei que igual ao leão rugia, mas não, o tigre ronca. E eu que pensei que só quem roncava era o homem.

A abelha zumbe. O grilo simplesmente canta. Já o burro zurra. Que bonito, durmo em minha casa enquanto lá fora os burros zurram.

Eu não sabia que um burro que fala todos os dias num programa de debates radiofônicos zurrava, vejam só.

O papagaio palra. Deve ser por isso que se criou, para os homens que gostam de conversar, que eles palram.

Mas o mais pitoresco e esdrúxulo de todos os cantares animais é o do peru: ele gruguleja. Ficou onomatopaicamente impecável o título do som do peru, é bem como ele faz.

E uma mulher que vive xingando muito o marido dá direito a ele de dizer que nunca viu uma mulher grasnar tanto, que mulher que crocita, essa, o diabo dessa mulher não para de guinchar.

Já a mulher pode se queixar de seu marido dizendo que ele vive rugindo, não cessa de mugir e de uivar.

Já o Pavarotti, o nosso grande tenor (barítono é que ele não era), ficou sublime ao simplesmente cantar. Era famosíssimo o agudo do Pavarotti, era daqueles agudos que quando pronunciados chegavam a quebrar os copos de cristal.

Interessante que tanto os homens quanto os animais usam a fonética para exprimirem-se.


Nós é que não conseguimos decifrar a linguagem dos animais. É uma pena, se soubéssemos o que querem dizer quando emitem seus sons, os compreenderíamos muito melhor.

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