17
de março de 2014 | N° 17735
L.
F. VERISSIMO
Dois filmes
Os
filmes Gravidade e Até o Fim têm em comum o tema da sobrevivência em ambientes
hostis e o malabarismo técnico. Em tudo mais, são opostos. Não se fica sabendo
nada sobre o personagem único de Até o Fim – nem nome, nem passado, nem nada –
e assim pode-se escolher entre vê-lo como um símbolo universal da espécie
humana em confronto com a Natureza ou como um ator famoso chamado Robert
Redford metido numa aventura para a qual não tem mais idade.
Já
da Sandra Bullock em Gravidade sabemos tudo, inclusive seu passado trágico. É
mais fácil simpatizar com ela do que com o enigmático Robert. Os dois filmes
também são opostos porque seus personagens são vítimas de elementos contrários,
ar de menos e água demais.
A
pobre da Sandra sofre com a falta de atmosfera e o Robert com um excesso de
mar. Se os dois se encontrassem para jantar no fim das suas respectivas
odisseias solitárias, concordariam que bom mesmo é terra firme.
Extraordinários,
nos dois filmes, são os efeitos especiais. Não existe mais nada que um bom
computador e alguns milhões de dólares não possam reproduzir com realismo
irretocável. Foi notado que o diretor de Gravidade, Alfonso Cuarón, é o
primeiro latino-americano a ganhar um Oscar de direção, e menos notado que ele
ganhou com um filme pouco “mexicano”, um adjetivo indefinível que certamente
não inclui a engenhosidade técnica necessária tanto para ter um programa
espacial quanto para fazer um filme a respeito. O México agora pode dizer que
também já teve sua missão espacial, comandada pelo Cuarón. Fictícia, mas
admirável.
E
alguém mais notou que o contêiner abandonado no mar que se choca com o barco do
Robert e começa sua agonia carregava sandálias Havaianas, que boiam? Se não é
ironia, é marketing.
PRECISAVA?
A
volta do ioiô e do bambolê, tudo bem. Mas precisava voltar a Guerra Fria?
Tantas outras coisas poderiam voltar em vez do equilíbrio do terror entre
potências nucleares... Aquelas balas de coco que colavam no céu da boca, por
exemplo. Baleiros nos cinemas. Filmes de caubói. Programas de auditório. O
Vigilante Rodoviário. Os Patrulheiros Toddy!!
Mas
não, o que volta é a Guerra Fria. Pela Ucrânia, gente. (Dizem que nos Estados
Unidos já tem gente tirando as bicicletas quebradas, os long-plays e o resto da
tralha acumulada dos abrigos antiaéreos, para o caso do Putin atacar).
PAPO
VOVÔ
A
Lucinda, nossa neta de quase seis anos, nos surpreende com seu vocabulário. Mas
felizmente ainda não sabe tudo, embora pense que sabe. No outro dia, nos
contava de um personagem da TV que perdera a memória e disse que ele estava com
“maionésia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário