14 de março de 2014 | N°
17732
DAVID COIMBRA
Para onde vão os bons
Estava lendo sobre os tais gastos
do senador Pedro Simon com o plano de saúde dos congressistas e fiquei triste.
A esta altura da vida e da carreira, um homem como Pedro Simon ter de se
explicar sobre gastos com saúde, como se ele estivesse arrombando as burras
públicas. Quanta miséria.
Preciso deixar algo bem claro:
não estou sendo irônico. Os congressistas têm de ter um ótimo plano de saúde,
têm de ter ótimos salários, os ex-governadores e ex-presidentes têm, sim, de
receber pensão vitalícia, e uma gorda pensão. Faz parte do custo da democracia,
e é um custo barato.
Imagine um senador da República
chegar aos 80 anos de idade, como Pedro Simon, e descobrir que não tem dinheiro
para financiar um caríssimo tratamento de saúde. O que ele fará? Morrerá impoluto
ou se deixará financiar por interesses escusos? Ou então imagine um
ex-presidente da República ter de se empregar em uma grande multinacional para
não passar necessidade no fim da vida. Por favor!
É por distorções como essas que
os bons estão cada vez mais distantes da política. Resta o resto. O rebotalho.
A escumalha. Por que um profissional que pode ser bem acolhido pela iniciativa
privada, e nela receber um vultoso salário e nela ser tratado como estrela, irá
arriscar sua reputação numa atividade em que ele estará sempre sob suspeita e
que, a priori, condena-o à censura pública? Quem encara um político já o faz de
nariz torcido.
Assim, o que existe à disposição
do povo brasileiro na política? Os poderosos, hoje, estão no PT, embora os
petistas, ladinamente, digam que os poderosos estão em outro lugar. Muito
sagaz. Lula é autor dessa obra. Lula é um gênio político. Aprendeu como chegar
ao poder com destreza única na História do Brasil. Nem Getúlio foi tão
perspicaz. Mas, chegando ao poder, o que Lula e o PT fazem com ele? Trabalham
para se manter no poder. É assim que funciona o governo brasileiro. Ele está no
poder para se manter no poder. É um motocontínuo.
Quais são as ações práticas e
administrativas do governo petista nesses 12 anos? As mesmas do governo
militar. O PT é desenvolvimentista. Empenhou-se em pavimentar estradas,
construir hidrelétricas e fomentar alguns empresários amigos, como Eikes e
Fribois. Exatamente como o governo militar. Na parte social, o PT valeu-se de
programas, jamais fez mudanças estruturais.
Qual é a diferença ente o Minha
Casa, Minha Vida e o BNH e entre o Prouni e o velho Crédito Educativo? Nenhuma,
salvo que o BNH e o velho Crédito Educativo talvez fossem melhores. Onde estão
as reformas? O que é feito da Saúde, da Educação e da Segurança Pública, que só
pioram? Foram 12 anos perdidos, como foram perdidos os 20 do regime militar.
Mas Dilma será reeleita e, depois
dela, graças à ação paternalista e ideológica que se desenvolve todos os dias
no Brasil profundo, graças também ao gênio de Lula, depois dela o PT seguirá
por mais uma geração no poder. Até porque as alternativas são de dar medo: o
PSDB dos vorazes tubarões da indústria paulista, os moluscos do PMDB, os
conservadores retrógrados dos partidos sucedâneos da Arena, como aquele partido
de nome contraditório, o Democratas, e os aprendizes de talibãs da
ultraesquerda. Cruzcredo, valha-me, Nossa Senhora mãe de Deus de Nazaré!
Para onde foram os bons do
Brasil? Para a iniciativa privada, longe da vigilância dos falsos moralistas,
longe dos escândalos de fachada, longe da denúncia dos hipócritas, longe da
cobrança mesquinha como a que desabou sobre o senador Pedro Simon. Pobre do
senador Pedro Simon. Pobres dos (cada vez mais raros) dignos homens públicos do
Brasil. Pobre do povo brasileiro.
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