ELIO
GASPARI
De GetulioVargas@edu para
Dilma@gov
Como
eu, a senhora pratica a diplomacia do silêncio, ela não traz popularidade, mas
é a melhor para nós
Excelência
Escrevo-lhe
para felicitá-la. A senhora restabeleceu uma diplomacia discreta, diria mesmo
de recusa a exibicionismos inúteis. Há dificuldades na Venezuela e agora surgiu
a crise da Crimeia, mas estamos fora dos holofotes.
Peça
ao Sarney a poesia "A Carga da Cavalaria Ligeira" de Lord Tennyson.
Ele conta o ataque de cavaleiros ingleses contra uma tropa turca artilhada
durante a batalha de Balaclava, na guerra da Crimeia do seculo 19. Li-a ontem
para minha amada Aimée. Foi um desastre produzido por generais ineptos, mas o
poema mostra como as potências fabricam mitos heroicos.
Minhas
dificuldades foram maiores que as suas. Consegui ficar neutro durante a Guerra
Civil Espanhola. Até onde pude, mantive-me longe do conflito europeu. Sem
fanfarra, em maio de 1941, avisei ao embaixador japonês que se um país
americano fosse atacado, nós seriamos solidários. Em dezembro eles bombardearam
Pearl Harbor. Os americanos exigiam o controle de uma base aérea no Saliente Nordestino,
pois sem a rota de Natal a Dacar ficariam aprisionados pelo Atlântico. Cedi.
Lidei com embaixadores impertinentes e tive pavões no Ministério das Relações
Exteriores. O Oswaldo Aranha achava que era o gerador do mundo, centro do
universo.
Depois
que saí da vida para entrar na história, há 60 anos, vieram o Juscelino com a
tal de "Operação Pan-Americana", o Jânio com a "Politica Externa
Independente", o Castello Branco com a "interdependente" e o Sr.
Luiz Inácio da Silva, que se tornou um papagaio de pirata de crises
internacionais. Usei essa expressão que hoje é comum aí, mas não sei se o fiz
corretamente. As diplomacias de slogans são apenas propaganda política. Os
generais mandaram tropas para ocupar a República Dominicana, num episódio que
hoje se procura apagar. Chegamos ao ponto de o general Médici cobrar do
presidente Nixon a deposição de Fidel Castro. Outro dia o Nixon me perguntou
porque ele fez aquilo.
Diplomacia
sem fanfarra tem um custo. Criticam-nos de todos os lados, acusando-nos de omissão.
Há quem lhe ataque por estar próxima dos bolivarianos e também por ficar
distante. Algum gabola da Comunidade Europeia resolveu botar fogo na Ucrânia
sem prever a reação da Rússia. Em 1956 os americanos insuflaram a rebeldia
húngara e em 1962 a
dos cubanos de Miami. Fracassaram e abandonaram os aliados. O Pedro 2º
lembrou-me de que manteve nossa neutralidade durante a guerra civil mexicana,
quando os rebeldes fuzilaram-lhe o primo-irmão Maximiliano. Os franceses, que
haviam insuflado sua aventura, abandonaram-no.
Quando
nos metemos a buscar um papel maior que nossa importância internacional,
invariavelmente acabamos dificultando a defesa dos nossos verdadeiros
interesses. Parabéns, senhora.
Com
todo respeito,
Getúlio
Vargas
CENA
BRASILEIRA
O
presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, visitava o presídio de Porto
Alegre quando um major da brigada pediu a palavra e contou que "somos 12%
da população do Estado e 40% da população carcerária": "Deve ter
alguma coisa errada".
Mal
terminou a frase, ouviram-se mumunhas para que o major calasse a boca. Barbosa
pediu que o deixassem falar. Em seguida, respondeu: "Eu percebi".
O
que incomodou os áulicos? As estatísticas ou o fato de um negro levantar esse
assunto para outro negro?
PACIFICADOR
O
secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, zangou-se quando um
pesquisador apontou a "pacificação" das estatísticas de homicídios do
Estado.
Depois
da morte de Cláudia Silva Ferreira, arrastada pela viatura que devia levá-la ao
hospital, o repórter Marcelo Gomes informou o seguinte:
O
subtenente Adir Serrano Machado, que estava na cena viu-se listado em 57
"autos de resistência" em que morreram 63 pessoas. Seu colega Rodney
Archanjo, está em outros cinco, com seis mortos.
De
duas uma, ou as estatísticas da polícia do Rio assemelham-se às reuniões dos
conselhos do comissariado, ou policiais como Machado e Archanjo são versões
modernas do Sargento York, o soldado americano da Primeira Guerra,
magistralmente representado por Gary Cooper. Sozinho, York matou 28 alemães e
capturou 132.
Como
disse o viúvo de Cláudia, ao governador Sérgio Cabral: "Se não tivesse
aquele cara que filmou, este seria só mais um caso. Tomou tiro, entrou no
hospital e morreu".
CHEGOU
A CONTA DA BOLSA CONSELHO
A
prática é velha: reforça-se o orçamento dos hierarcas nomeando-os para
conselhos de empresas. Ela vale tanto na administração federal como nas dos
Estados. Tome-se o exemplo de Dilma Rousseff. Em 2006, como chefe da Casa
Civil, tinha um salário mensal de R$ 8.362. Em 2007, ganhava R$ 8.700 mensais
como conselheira da Petrobras e de sua distribuidora. À Casa Civil ela ia todo
dia, aos conselhos, uma vez a cada dois meses (e às vezes chegava atrasada).
O
conselho de Itaipu, joia da coroa do comissariado, paga R$ 19 mil. Em 2012
havia treze ministros nas Bolsas Conselho e os doutores Guido Mantega e Miriam
Belchior fechavam os meses com um total de R$ 41,5 mil. A comissária Belchior
estava no conselho da BR Distribuidora, para quê, não se sabe.
Quando
o PT estava na oposição, reclamava disso. No governo, acostumou-se. Agora
chegou a conta. Como integrante (e presidente) do Conselho da Petrobras, Dilma
é responsável pela aprovação da ruinosa compra de uma refinaria em Pasadena,
nos Estados Unidos. A repórter Andreza Matais obteve do Planalto uma nota,
escrita pela doutora, informando que a decisão foi tomada com base num
relatório "técnica e juridicamente falho". A ver.
A
ruína estava em duas cláusulas do contrato e elas viriam a custar US$ 820
milhões à empresa. A explicação segundo a qual esses dispositivos só chegaram
ao conhecimento dos conselheiros depois da aprovação do negócio é plausível.
Mesmo que a doutora só tenha percebido a ruína depois, era a poderosa chefe da
Casa Civil. Quem pode tirar quaisquer dúvidas sobre o caso é o ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto Costa, que está preso na Policia Federal.
Numa
estrutura séria, seria demitido o presidente da empresa, ou iriam embora os
conselheiros que se julgaram desinformados. Os conselhos de estatais não são
sérios, são bicos. O caso da refinaria acertou a testa da doutora Rousseff, a
gerentona que pode ser acusada de viver num mundo de verdades próprias, mas
nunca se meteu em transações tenebrosas. A vida é arte, errar faz parte.
Enquanto houver hierarcas em boquinhas, o erro será a arte.
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