13 de março de 2014 | N°
17731
EDITORIAIS
A Petrobras investigada
Um dia depois de a presidente
Dilma Rousseff ter garantido, no Chile, que o PMDB só me dá alegrias, o partido
conseguiu unir-se a outras legendas da base aliada na Câmara para impor uma
derrota política ao governo, aprovando convocações e convites para ministros e
para a presidente da Petrobras prestarem esclarecimentos ao Legislativo.
A vítima mais visível e mais
imediata desse jogo de forças entre Planalto e oposição num ano de campanha
eleitoral é a maior estatal brasileira, que, por ter ações negociadas em bolsa,
fica mais vulnerável. Por isso, é lamentável que o próprio governo federal não
tenha se adiantado para prestar esclarecimentos sobre denúncias envolvendo
pagamento de propina a servidores da Petrobras pela empresa holandesa SMB
Offshore. E é inaceitável que parlamentares tentem transformar a principal
estatal brasileira em alvo político.
Neste primeiro momento, o que se
constata é a oposição celebrando uma derrota significativa do governo na
Câmara. Os parlamentares rebeldes da base governista, por sua vez, festejam uma
alegada independência que fortalece suas demandas junto ao Planalto. A
consequência dessa revolução, porém, pode ser danosa para o país.
Ao aprovar por 267 votos a 28 a
criação de uma comissão externa para apurar denúncias de corrupção relacionadas
à empresa, a Câmara até atende parte do interesse nacional, que é de não deixar
impunes crimes como o suborno. Ao mesmo tempo, porém, coloca em risco a
confiança dos investidores e a própria solidez da Petrobras, que já anda
abalada por equívocos administrativos.
O lamentável é que esse suposto
enrijecimento do Legislativo tenha motivações exclusivamente eleitoreiras. Uma
comissão externa para apurar as denúncias, como a aprovada agora prevendo o
deslocamento de parlamentares para a Holanda, não tem os poderes de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), como o de quebrar sigilo e convocar
testemunhas. O máximo que conseguiria, portanto, seria provocar um eventual
desgaste político para o governo e prejuízos financeiros e de imagem de
proporções incalculáveis para a estatal do petróleo.
Mais uma vez, o país arca com o
prejuí-zo de não dispor de partidos baseados em princípios sólidos, o que
impede os governantes de organizarem sua base de apoio em torno de um programa
claramente definido. Quando a isso se soma a inabilidade do Executivo em lidar
com essa deformação histórica, o ônus acaba se estendendo a todos os
brasileiros, de diferentes formas. O país perderá mais ainda se, depois dos
riscos políticos impostos a sua maior estatal, os parlamentares revoltosos se
acertarem com o governo negociando cargos. Por isso, é bom que a sociedade
fique atenta a todas as iniciativas aprovadas agora pela Câmara, e não apenas
as relacionadas à Petrobras.
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