04
de março de 2014 | N° 17722
FABRÍCIO CARPINEJAR
O auge do desespero
feminino
Eu
sei quando uma mulher está desesperada. Bem desesperada. Altamente desesperada.
Quando ela está prestes a se separar, ou romper os laços com o trabalho, quando
não aguenta sua rotina, quando expulsa os demônios, quando não responderá mais
nada educadamente, quando não pretende conversar, quando atravessou a
arrebentação e agora irá gritar e não fique por perto e não busque acalmá-la,
que ela passou realmente dos limites e não adianta fazer o que ela pediu ou
falar o que ela desejava ouvir, pois é tarde.
Quando
ela tomar esta atitude, deu, foi, o vulcão rugiu e cobrirá o dia de tremores.
A
mulher está desesperada na hora em que derruba o conteúdo de sua bolsa sobre a
mesa, na hora em que despeja sua bolsa, na hora em que vira de cabeça para
baixo sua bolsa, na hora em que derruba tudo desprovida de compaixão, desligada
do cuidado se alguma coisa quebrará no choque com a realidade.
A
bolsa é seu controle, sua memória, sua casa portátil.
O
gesto tem uma dramaticidade de ópera, um sentido de ária. Significa o fim dos
bons modos, sinaliza a rendição ao caos, nada será como antes.
Na
sua mentalidade, expor os segredos da bolsa é desistir da razão ou da forma
como enfrentava as adversidades até aquele momento.
A
bolsa é a derradeira fronteira da aparência, os limites entre a cidade e o
inferno.
Se
ela deixou de procurar o que queria encontrar com a eficiência do tato, se ela
deixou de procurar o que queria encontrar com a luz do celular, se ela não
achou o que queria nem com os olhos das mãos muito menos com os olhos dos
olhos, é que o negócio é sério, ela explodiu, perdeu a paciência, dobrou a
esquina do desaforo.
A
bolsa é seu equilíbrio, guarda o que precisa lá, conserva o que gosta lá,
conhece exatamente seus zíperes, seus bolsos, seus esconderijos.
A
bolsa é sua alma, seu chacra, seu yinyang, seu espírito.
Quando
tem consciência da localização das coisas na bolsa, está tranquila, está
centrada, está focada, está confiante.
Jogar
fora o que vai dentro expõe que a situação não tem conserto, é uma medida
extrema de mudança de personalidade.
Ao
despejar a bolsa, ela verá o que foi sua vida no último mês. O que ela tentou
esconder de si mesma. E iniciará uma faxina sem precedentes.
Todo
cuidado é pouco, você pode desaparecer junto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário