11
de março de 2014 | N° 17729
PAULO
SANT’ANA
Manjar dos deuses
Aqui
no bar da RBS tem um folhado com salsicha espetacular.
A
folha se desfolha quando a gente trinca os dentes. Depois da folha, uma
salsicha deliciosa nos espera.
Uma
pena que não haja neste bar nem bolinho de bacalhau, nem bolinho de batata com
guisado dentro. Mas um dia haverá.
Depois
que tive câncer na rinofaringe, com radioterapia, meu apetite diminuiu pela
metade. Antes, almoçava e jantava. Agora, só janto. Meu almoço é um lanche ali
pelas duas da tarde.
E na
janta não como muita coisa não, deve ser pela ânsia de chegar logo ao sorvete.
Afora
o galeto, passei a comer pouco. Mas no galeto me recompenso de toda a
frugalidade da semana.
E
sei onde tem galeto bem pequenino, do tamanho de passarinho, então me deito a
comer uns oito pedaços enormes de galetinhos.
Como
já viram, gosto de salsicha, mas desconfio de que ela seja feita de restos de
carne nos frigoríficos. Se for, que mal tem?
Da
mesma forma, muitas cozinheiras me confidenciaram que faziam os croquetes de
restos de comida.
Engraçado,
não aconteceu o mesmo com a salsicha, mas croquete nunca mais comi, fiquei com
má impressão sobre ele.
Há 50
anos, ingressei no universo das massas. Sei que Marco Polo trouxe o sorvete da
China para o Ocidente. Mas me parece que foi também Marco Polo, na sua célebre
excursão ao Oriente, que trouxe para cá massa.
Ha
cinco décadas, virei consumidor emérito principalmente do espaguete, mas,
quando me oferecem, traço com gula o canelone, o ravióli, o talharim, a
lasanha, o penne e todas as outras derivações da espécie.
Tanto
a lasanha quanto o ravióli casaram com a carne.
Mas
eu quero abrir um parêntese para o nhoque, que pode ter sido trazido pelo Marco
Polo mas foi aperfeiçoado pela minha ex-mulher, Ieda Sant’Ana.
O
nhoque é a mais trabalhosa das massas. Ieda levava seis horas para fazê-lo. Aqui
no Brasil, misturaram, para fazer o nhoque, a farinha de trigo e a batata,
confesso que a versão brasileira é a mais deliciosa.
Um
nhoque com carne bovina denominada tatu, recheada de toucinho e sei mais lá o
que, é comida dos deuses.
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