04
de março de 2014 | N° 17722
LUIZ
PAULO VASCONCELOS
Levanto ou não levanto?
Há controvérsias
quanto ao aplauso de pé. Uns acham que é vulgaridade, outros que é reconhecimento,
celebração. Antigamente, o aplauso de pé tinha um significado, queria dizer que
aquele espetáculo era o melhor, acima da média, merecedor de uma manifestação
mais entusiasmada. Hoje, todos os espetáculos são aplaudidos de pé, portanto, não
significa mais nada, ou melhor, transformou-se em expressão mediana – e, como
sabiamente diz o escritor Thomas Bernhardt, o mediano é o medíocre.
Há um
mês, a Folha de S. Paulo publicou uma longa matéria do crítico Nelson de Sá sobre
o assunto e, dentre as opiniões citadas, destaca-se a da atriz Nydia Lícia, que
diz: “Antes era um gesto estrondoso para o ator. (...) Agora, levantam,
assobiam, gritam e fica tudo no mesmo”. E o diretor Antunes Filho conclui: “Antes
era mais seco. Agora é um touro bravo, vai que vai. Agora é absolutamente nada”.
Na
verdade, não se sabe se o público se levanta para enfatizar o aplauso, para ser
visto por quem está a seu redor ou para chegar primeiro no estacionamento
lotado. A ascensão da classe média, não preparada culturalmente para dissociar
distração e diversão – um dia eu falo nisso –, e a frequente presença de astros
e estrelas da Globo nos palcos do país contribuíram para a superação da convenção.
Se aquele moço bonito da novela está ali, ao alcance da minha mão, não há como
não levantar para aplaudi-lo.
Ah! E
ainda tem a praga do ator aplaudindo o público. Mal o espectador levanta e os
atores já estão batendo palmas. Ridículo. Antes, isso também tinha um sentido. Lembro-me
de Sérgio Viotti, meu professor na universidade, que dizia que o ator tem que
aprender a ser aplaudido, se concentrar, segurar um sorriso no rosto, encarar o
público, curvar-se quantas vezes forem necessárias, sair e voltar à cena
quantas vezes o aplauso exigir. Mas bater palma, jamais. Afinal, quem precisa
extravasar os sentimentos acumulados durante o espetáculo é o espectador. E o
ator precisa contribuir com isso através de uma postura profissional.
Outra
lição que tive sobre o tema foi num concerto regido por Igor Stravinsky muitos
anos atrás, no Municipal do Rio. O público todo de pé, aplaudindo por mais de 15
minutos, o maestro veio à cena 11 vezes, sendo que na última já vestia capa de
chuva, chapéu e trazia um guarda-chuva pendurado no braço.
Entrou,
pediu silêncio e, sorrindo, disse que estava morrendo de fome e que, por favor,
o deixassem sair para jantar. Brilhante!
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