02
de janeiro de 2014 | N° 17661
PEDRO
GONZAGA
Lista de desejos
E
eis que com a mesma devoção que a erguemos, começamos a dinamitar nossa lista
de desejos para 2014, pois um dia bastou para percebermos vã a esperança
daqueles quilos a menos (e não tendo caído no domingo sequer contamos com
cinismo das segundas), já mal um dia avança e vai botando água na nossa intenção
de sermos mais tolerantes com as publicações alheias (em especial as com jogos
da velha), não é fácil,
vocês
sabem disso, e ainda precisamos andar mais de bicicleta, deixar de reclamar do
calor, da Copa, das eleições, superar os calos de tantas outras listas
fracassadas, e eu pergunto a vocês, por que seguir com isso, o que há em nós
que nos quer tão espartanos, tão estoicos, que nos quer culpados por não termos
dado conta das pilhas de filmes (quase todos à espera), das pilhas de discos (para
quem ainda os compra, abraços aos amigos Paulo Moreira e Marcito Pinheiro), das
pilhas de livros que aguardam por leitura aqui desde 1994,
confesso,
e confesso mais: cada um de nós tem um ponto fraco para escoar seus suados
dinheiros, os meus são os livros (havia uma filipina cujo nome agora me foge
que adorava colecionar sapatos), livros sempre comprados em P.G., para uma potência
de leitura que mal sustenta uma P.A.,
triste
isso, mas me permitam (agora quase íntimos) um lampejo de gorduroso orgulho: nunca
escrevi em lista, “prometo só adquirir novos livros depois de ter lido os que
foram comprados”, ora pois, por que cercear essa alegria, afinal, uma lista
deveria ser sobre o possível, não sobre o desejável,
e é por
isso que não à toa, à medida que caem as mais nobres resoluções, restam-nos
somente as melancólicas (em geral, a partir da sétima – confiram aí), aquelas
que denotam o efeito do tempo sobre nossas pretensões, e logo rebrilha a cota
de autoflagelo e de tantas nítidas saudades que mais do que a ressaca vêm nos
cegar aos primeiros dias de janeiro, mas não cedamos, não fraquejemos,
lembremos do Paulinho da Viola no documentário Meu Tempo
É Hoje,
quando ele sabiamente diz não ceder à tentação da nostalgia, a que eu
acresceria, não ceder à tentação de planejar o futuro, o que por fim abriria
uma possibilidade de reduzir a esses dois únicos itens a minha lista de 2015,
ciente, desde já, de não ser forte o bastante para não me impor alguma espécie
de obrigação.
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