sexta-feira, 10 de janeiro de 2014


10 de janeiro de 2014 | N° 17669
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES

O harém de Olacyr

O psicanalista Contardo Calligaris e o jornalista Carlos André Moreira pediram um bule de chá de jasmim e uma bandeja de croissants com goiabada e conversaram por quatro horas uma tarde dessas num hotel de Porto Alegre. A bela entrevista foi publicada na Zero Hora. Calligaris diz a André que a sexualidade do brasileiro é careta porque temos poucos clubes de swing.

Nem pensei que o swing ainda estivesse na moda. Pra quem não lembra, é a troca de casais. Claro que Calligaris tentou impressionar André. Aproveitou-se da pureza de um rapaz que concentra toda sua energia na leitura de 10 livros por mês. Percebendo a candura de Andrezito, disse que um país sem clubes de swing é deficiente em fantasia sexual.

O swing prosperou nos anos 80 em países marcados pelo recatamento. Reprimidos buscavam a liberação do swing. Era para eles a caricatura de uma transgressão. Mas brasileiro não precisa de swing.

Calligaris deveria conhecer um senhor de 82 anos. É o exemplo do praticante de fantasias que muitos têm mas poucos podem levar adiante: Olacyr de Moraes, o ex-rei da soja e também ex como um dos homens mais ricos do Brasil.

Nos anos 90, Olacyr se divorciou de dona Edna e começou a viajar pelo país com meninas bonitas, altas, enormes. Em 1994, eu vi Olacyr na boate de um hotel em Gramado entre duas belas. As luzes faiscando e ele sentadinho no escuro, num banco comprido, desses de parede.

Estava com a cara de guri pronto para fazer arte. Ao lado dele, o médico Eduardo Gomes de Azevedo. As gurias sorriam um sorriso azulado, constrangido.

Naquela época, Olacyr não escondia a missão do médico particular. Na hora certa, ele aplicava no empresário uma injeção de papaverina, um vasodilatador. Ficava potente para qualquer desafio. Era insaciável, não viajava com uma, mas com duas ou três acompanhantes.

De repente, os meganegócios de Olacyr começaram a afundar junto com o projeto da Ferronorte, a ferrovia que ligaria Mato Grosso a Rondônia. As viagens acabaram. Em outubro de 2002, eu cobria as eleições presidenciais em São Paulo. Geraldo Alckmin, o candidato tucano, votava no colégio Santo Américo, no Morumbi.

Foi quando vi Olacyr na porta da escola, de mão com dona Edna, em pé, olhando Alckmin, um grudadinho ao outro como noivos de bolo. Me deu vontade de avisar o pessoal na volta: olhem só, o Olacyr largou a luxúria e voltou para a dona Edna.

No fim do ano passado, Olacyr deu uma entrevista para o Jô Soares. Confessou que teve uma recaída e está na estrada de novo. Tem “umas 30 ou 40 amigas”. Disse que ajuda as moças a pagarem a faculdade, o aluguel, essas coisas. Pela benemerência, foi aplaudido pelo público.


Eu conto essa história porque Olacyr nunca escondeu que circula por aí com as amigas. Tem um harém, e essa, sim, é uma fantasia e tanto. E o Calligaris achando que troca de casais é que é o máximo. Eu não sabia que o grande Calligaris é meio careta.

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