sexta-feira, 17 de janeiro de 2014


17 de janeiro de 2014 | N° 17676
EDITORIAIS

TRAGÉDIA EVITÁVEL

As estradas não matam. O que mata, no trânsito, é a alta velocidade, a imprudência, a ingestão de bebida pelos condutores e o desrespeito às normas e à sinalização. Mas estradas em condições podem evitar acidentes e mortes. Por isso, é urgente e imprescindível a duplicação da BR-386, que na quarta-feira foi palco de mais uma tragédia por conta de um caminhão desgovernado que abalroou vários veículos. Se fosse uma estrada mais segura, talvez as vítimas tivessem escapado com vida.

Sem uma barreira física entre os veículos que trafegam em sentido oposto e sem área de escape, os condutores e passageiros dos automóveis caíram numa armadilha fatal. A tragédia soma-se às estatísticas do massacre em rodovias, que se repetem também como decorrência da omissão do setor público diante dos alertas de que essa e outras áreas estão em desacordo com a evolução do país.

O Brasil da infraestrutura precária está em contraste com a nação da estabilidade econômica, que tem, apesar do baixo crescimento, proporcionado emprego e melhoria da qualidade de vida. Rodovias em más condições ou com fluxo estrangulado, como é o caso de BR-386, representam perdas para quem produz e, o que é ainda mais grave, riscos que ocasionam mortes como as de quarta-feira.

Esse cenário resulta de uma combinação de omissões. Por muito tempo, o governo federal omitiu-se como responsável pelo financiamento das grandes obras. O Rio Grande do Sul, em particular, ficou de fora das prioridades definidas para o setor rodoviário e só recentemente recebeu atenção de Brasília, com a construção da BR-448. Não é o suficiente para compensar deficiências acumuladas. Além de investimentos em duplicação, falta manutenção básica.

Conforme a Confederação Nacional do Transporte, a União represou a aplicação de recursos em estradas, liberando apenas um terço do que estava dotado em 2013. Diz a CNT que 63% das rodovias federais brasileiras apresentam problemas por falta de correção em pavimentos, sinalização, geometria. Falta gestão e sobra burocracia.

Não é diferente na esfera estadual, com o setor público sob o desafio, no começo do ano, de manter estradas cujos pedágios eram explorados até 2013 por concessionários privados. Não são alentadores, até agora, os indicativos de que a estatal incumbida de administrar rodovias atenderá às expectativas criadas.


Problemas estruturais contribuem para que se potencializem outros fatores envolvidos nos acidentes no país, entre os quais se destaca a imprudência. Balanço divulgado ontem pela Polícia Rodoviária Federal comprova a irresponsabilidade como principal causa das 8.661 mortes registradas em estradas mantidas pela União. A irresponsabilidade pode ser medida pelo flagrante de 11,8 mil motoristas presos, em 2013, por estarem dirigindo sob o efeito de bebida alcoólica. As tragédias nas rodovias são, portanto, o resultado do descaso governamental e da imprudência e da negligência de expressivo contingente de condutores que as utilizam.

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