quinta-feira, 9 de janeiro de 2014


09 de janeiro de 2014 | N° 17668
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo

E no entanto ela se move

Às vésperas de completar três anos, a Primavera Árabe, que muitos julgavam sepultada pelo triunfo do general Abdel Fatah al-Sisi no Egito e do ditador Bashar al-Assad na Síria, emitiu dois importantes sinais de vitalidade nos últimos dias.

O mais importante teve como palco a Síria, onde as forças de Al-Assad vinham obtendo sucessivos progressos militares desde que um acordo entre os Estados Unidos e a Rússia em torno da destruição do arsenal químico de Damasco pavimentou o caminho para a busca de uma solução negociada com a manutenção do ditador no poder.

Desde segunda-feira, grupos armados de oposição em Aleppo, segunda metrópole do país, e Raqqa uniram forças contra o grupo fundamentalista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Eiil), que proclama lealdade à Al-Qaeda. Essa organização, financiada e armada pelos governos da Arábia Saudita e do Catar, ingressou no território sírio no ano passado com o propósito declarado de engrossar a luta pela derrubada de Al-Assad.

Não foram necessários mais do que alguns meses, porém, para se voltar com requintes de selvageria contra a oposição, de início os curdos (que são muçulmanos sunitas, mas não árabes), e, em seguida, todo e qualquer combatente avesso a seu domínio. Até mesmo a Frente al-Nusra, braço oficial da Al-Qaeda na Síria, somou-se em algumas regiões à luta contra o Eiil, para logo em seguida propor um cessar-fogo.


Outro desdobramento significativo foi a decisão da Assembleia Constituinte da Tunísia de rejeitar qualquer papel político à religião e afirmar a igualdade de gênero. É fato que a Tunísia, berço do primeiro triunfo do levante árabe em janeiro de 2011, jamais foi território propício ao fundamentalismo. Ainda que a vitória do partido Ennahda, de inspiração religiosa, nas eleições do ano passado possa ter sugerido um rumo distinto, a decisão dos constituintes reafirma o rumo secular do país.

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