18 de janeiro de 2014 |
N° 17677
CLÁUDIA LAITANO
Primeira viagem
Eu gosto de ser mãe de
adolescente, mais do que gostei de ser mãe de bebê ou de criança pequena. Se
fosse possível isolar as diferentes habilidades que a maternidade exige ao
longo dos anos, diria que o meu forte está em genuinamente gostar de conviver e
conversar com adolescentes.
Há algo especialmente intenso
nesse período que parece deixar mais evidente a passagem de bastão de uma
geração para a outra. Isso porque coexistem, no adolescente, tanto os traços da
sua origem familiar quanto os primeiros sinais do adulto que ele pode vir a
ser. Se os recém-nascidos representam a espantosa capacidade da vida biológica
de se renovar, reunindo características de duas pessoas em uma terceira novinha
em folha, os adolescentes nos lembram que temperamentos, ideias e emoções
também se misturam, se recombinam e resultam em um ser humano 100% inédito –
que por sua vez vai colocar em ação essa combinação única em um mundo
completamente diferente daquele que seus pais e avós conheceram. Adolescentes
já não estão totalmente sob a tutela dos adultos, mas ainda não são
independentes. Equilibram-se entre o passado, que somos nós, e o futuro, onde
estaremos apenas em parte.
Conviver com adultos em formação,
porém, pode provocar sentimentos ambíguos. Filhos adolescentes nos levam a
reviver a nossa própria adolescência e tudo aquilo que imaginamos que
poderíamos ter feito de outro jeito. Uma parte de nós, às vezes não tão
pequena, mal consegue disfarçar a nostalgia da época em que tudo ainda estava
por acontecer: o amor, a profissão, a melhor versão de nós mesmos. E o que em
geral nos ajuda a aceitar a vertiginosa e irreversível passagem do tempo é
exatamente aquilo em que nossos filhos nem sempre parecem interessados: as duas
ou três coisas que aprendemos até aqui e que ficaríamos muito felizes de poder
compartilhar. (Na verdade, é quando menos imaginamos que mais eles estão
aprendendo conosco. São eles que decidem a parte de nós que querem guardar para
o resto da vida – e não o contrário.)
Nos próximos meses, vou ficar
longe da minha adolescente pela primeira vez. Enquanto ela estiver estudando
fora, caberá a esta mãe aprender a ficar calma e a sentir-se menos necessária.
Seria bom se houvesse algum tipo de certificado garantindo que estamos prontos
para as situações inéditas, mas isso só existe na fantasia que os adolescentes
têm a respeito do mundo dos adultos. Na vida real, nunca deixamos de ser como
atores estreantes diante de um palco vazio e uma plateia inquieta. Quando
estamos mais distraídos, vem alguém e nos empurra para dentro da cena gritando
que o espetáculo já começou. Se é assim, que venha o primeiro ato – e que seja
um sucesso.
Boa viagem para nós, Pi!
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