Elio Gaspari
Bruxarias do mercado em ano
eleitoral
Tem
gente que acredita em pajé ou em agências de risco, mas as bruxas existem e
suas vassouras estão por aí
O
fato de um sujeito ser paranoico não impede que ele esteja sendo seguido. A
doutora Dilma reclamou que seu governo sofre uma "guerra psicológica".
Nada mais natural para um comissariado que vive sob a mentalidade do sítio,
julgando-se perseguido pela imprensa, pelos aliados e pelo mercado. Mesmo
assim, o paranoico pode estar sendo seguido.
Outro
dia a agência de risco Moody's anunciou que poderá baixar a cotação do Brasil.
Isso foi o suficiente para provocar um leve piripaque no mercado financeiro. O
fato de a Fitch ter dito o contrário não teve qualquer importância.
As
três grandes empresas desse mercado (Standard & Poor's, Moody's e Fitch)
são uma espécie de oráculo. Por mais que possam ser neutras, a verdade é que
com esses anúncios pode-se ganhar um dinheirinho fácil. Compra-se hoje,
vende-se amanhã e embolsa-se algum. Na crise de 2007 elas passaram por um
vexame histórico. Lambuzaram bancos quebrados e iludiram a boa-fé do público.
Essa foi a conclusão a que chegou uma comissão de inquérito do governo
americano.
Faz
melhor negócio quem acredita nas agências de risco e não presta atenção ao que
diz o ministro Guido Mantega, mas coisas estranhas acontecem no mundo das
previsões econômicas.
No
final de abril de 2008 Lula decidiu tirar o doutor Henrique Meirelles da
presidência do Banco Central, convidou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que
aceitou. No dia 1º de maio a agência Standard & Poor's elevou a cotação do
Brasil, concedendo-lhe o "investment grade". Meirelles ficou no BC.
Durante
a campanha eleitoral de 2002 o banco JP Morgan rebaixou a cotação do Brasil
diante da possibilidade de Lula vencer a eleição presidencial. Nessa época o
Morgan fazia negócios com o gênio Bernard Madoff, que vendia vento, numa fraude
de US$ 65 bilhões, a maior da história americana. Há pouco o banco concordou em
pagar uma indenização de US$ 2,6 bilhões às suas vítimas. Seus diretores não
fizeram isso por altruísmo, mas para encerrar um processo que poderia levar
alguns deles à cadeia.
Já o
banco Goldman Sachs criou em 2002 uma gracinha chamada "Lulômetro".
Era uma bonita equação onde o interessado preencheria as variáveis ao seu gosto
e obteria o valor do dólar caso Lula fosse eleito. (A moeda americana ameaçava
chegar a R$ 4.)
Divide-se
a galera da psicologia das previsões em três grupos. Um quer advertir a
clientela para a situação econômica ou os riscos de um resultado eleitoral num
determinado país. É esse o seu papel. Outro quer influenciar a plateia e faz de
bobo a quem acredita na neutralidade de sua previsão. No terceiro grupo estão
aqueles que pouco se interessam pelos resultados econômicos ou eleitorais.
Querem apenas ganhar algum. Na crise do real sobrevalorizado de 1998, um banco
americano publicou um artigo propondo que Fernando Henrique Cardoso confiscasse
a poupança nacional, como fizera Fernando Collor. (Sugestão idêntica veio do
presidente da Argentina, Carlos Menem.) Era maluquice, mas um conhecedor do
mercado estudou as cotações dos papéis brasileiros nos dias anteriores e
posteriores a essa sugestão e concluiu que um espertalhão poderia ter ganho
algo como US$ 5 milhões em poucos dias.
SALVEM
A FACULDADE
A
Universidade Gama Filho, onde funciona a maior faculdade de medicina do país,
está apodrecendo. A doutora Dilma, o governador Sérgio Cabral e o prefeito
Eduardo Paes comportam-se como se esse problema fosse do Qatar, sede da Copa do
Mundo de 2022.
A
trinca quer fama pelas obras que faz para grandes eventos. Fariam melhor se
preservassem uma faculdade que tem 2.400 alunos. Não lhes convêm ficar como
governantes que construíram estádios e assistiram ao fechamento de uma
faculdade de medicina.
(Desde
que os controladores não recebam um só tostão da Viúva e sejam obrigados a
pagar o que devem.)
DE
OLHO
O
presidente do conselho federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus
Vinicius Coêlho, é candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
Espera
que o senador José Sarney ajude a levar seu pleito à doutora Dilma.
E-BOOKS
No
Brasil ainda não se chegou a um acordo entre as editoras e as bibliotecas
públicas para regular a circulação de livros eletrônicos para os contribuintes.
A
coisa pode funcionar assim: a biblioteca empresta os livros por um prazo
determinado, ao fim do qual o link morre.
Todo
mundo ganha. Os livros custam a metade, as despesas com armazenamento e
manutenção tornam-se desprezíveis, e o freguês recebe a obra sem sair de casa.
Já
nos Estados Unidos, onde criam-se poderosas bibliotecas eletrônicas, foi
inaugurada no Texas a primeira biblioteca sem livros de papel. No condado de
Bexar, a Bibliotech oferece não só as obras, mas empresta também as tabuletas.
EREMILDO,
O IDIOTA, FOI AO MARANHÃO
Eremildo
é um idiota e soube pela repórter Andréia Sadi que a governadora Roseana
Sarney, donatária do Maranhão, queria abrir uma licitação para adquirir mais de
uma tonelada de camarões, 750 quilos de patinhas de caranguejo e um estoque de
lagosta fresca. A feira custaria cerca de R$ 1 milhão e abasteceria a despensa
da doutora tanto no palácio como em sua casa de praia.
Depois
o cretino soube que o governo de Roseana Sarney divulgou uma nota repudiando a
divulgação de um vídeo "com apelo sensacionalista". Eremildo
convenceu-se que alguém havia filmado as lagostas e patinhas de caranguejo da
governadora. Achou que o repúdio era mais do que justo.
Só
depois ele soube que o vídeo mostrava presos decapitados numa prisão
maranhense. O governo da senhora disse que ocorreu uma "ação criminosa
(...) que fere todos os preceitos dos direitos humanos". O idiota ficou
com uma dúvida: se o vídeo não tivesse sido divulgado, os direitos humanos dos
presos degolados teriam sido preservados?
Eremildo
fez umas contas de economia doméstica com a despensa da doutora Roseana. Ela
pretendia gastar R$ 1 milhão para abastecer seu palácio e a casa de verão
durante um ano. Isso dá uma conta de US$ 418 mil. (Isso para não se falar no
caviar para visitantes ilustres.) Como disse a doutora, o Maranhão tem
problemas porque "está mais rico", e rico sem caviar é um miserável.
O
bilionário Michael Bloomberg foi prefeito de Nova York durante 12 anos e a
conta dos almoços e cafés da manhã de seu gabinete ficou em US$ 890 mil, ou US$
74 mil por ano.
Uma
diferença: Bloomberg, que já era bilionário quando entrou para a política,
pagou a fatura com dinheiro do próprio bolso.
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