29 de janeiro de 2014 |
N° 17688
MARTHA MEDEIROS
Vaquinha
O site www.vakinha.com.br permite
que qualquer pessoa organize uma vaquinha com um propósito determinado, desde
conseguir dinheiro para a festa de formatura da filha até reformar o teto da
igreja, desde reunir fundos para uma cirurgia até realizar uma viagem para
conhecer o neto que nasceu em Sergipe. A pessoa estipula quanto vai precisar e,
ao alcançar a quantia desejada, sai automaticamente do site – não há excedente.
As contribuições podem ser feitas por boleto bancário ou cartão de crédito, e,
se não estou enganada, o valor mínimo é de R$ 5.
Atualmente, há uma vaquinha em
prol do dono do carro incendiado durante um protesto em São Paulo. O
serralheiro Itamar Santos passava com seu velho Fusca ano 75 e mais quatro
pessoas, incluindo uma criança, na Avenida Consolação, quando foi surpreendido
por colchões pegando fogo no meio do caminho. Achou que conseguiria desviar da
barricada, não conseguiu e, quando deu por si, o veículo estava em chamas. Foi
o tempo de estacionar e retirar todos de dentro.
Uma sorte terem escapado
ilesos, mas o Fusca deu perda total, e o serralheiro ficou sem o carro com que
entregava portões, seu ganha-pão. Agora, há uma vaquinha em benefício do seu
Itamar a fim de que ele receba R$ 10 mil: R$ 7,5 mil para comprar um novo fusca
e R$ 2,5 mil para cobrir os dias que está sem trabalhar. Até este momento,
foram coletados R$ 2.768,50.
Esmola eletrônica, exatamente.
Mas o termo “vaquinha” é mais simpático. Gosto da ideia de que cada um de nós,
doando uns trocados, pode colaborar para que alguém realize um sonho (terminar
a obra da casa, fazer um tratamento dentário etc) ou que seja ressarcido por
uma perda, como é o caso do seu Itamar, que, se fosse esperar providências das
autoridades, ficaria anos passando o chapéu nas ruas sem jamais alcançar os
seus R$ 10 mil. As pessoas são mais solidárias quando conhecem o problema de
quem precisa. Por isso, a vaquinha realizada através de sites e redes sociais é
mais eficiente, pois ficamos sabendo para quem vai o dinheiro e que uso terá.
Você pode estar pensando que há
quem se aproveite desse recurso para projetos menos nobres, como organizar um churrasco
para a galera. Sem problema. O que há de estranho? A galera convidada é quem
contribui e o churrasco sai. Rachar a conta é o que importa, seja pelo meio que
for.
Estranho seria alguém contribuir
para alguma bizarrice, tipo, sei lá, deixe-me pensar em algo bem esquisito...
Imagine que alguns políticos ajudaram a fazer com que nossos impostos não
fossem utilizados de forma correta, que tenham roubado dos cidadãos que neles
confiaram. Imagine que esses políticos foram condenados a devolver para o país,
em forma de multa, o prejuízo causado, e que eles organizassem uma vaquinha
para tal. Você contribuiria? Estranho seria isso. Você estaria pagando duas
vezes o mesmo imposto.
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