28 de janeiro de 2014 |
N° 17687
PAULO SANT’ANA
Chantagem sindical
Os empregados em transporte
coletivo de Porto Alegre entraram em greve ontem.
E destinaram para trabalhar nos
ônibus apenas 30% dos seus integrantes para atender a população, como manda a
lei, embora já existam decisões da Justiça do Trabalho de que até 70% dos
grevistas trabalhem nos horários de pico dos passageiros e usuários de serviços
essenciais.
Essa decisão tem de ser
imediatamente cumprida.
Inteligentemente, diante da
situação gravosa à população, a EPTC agiu com rapidez: concedeu que os ônibus metropolitanos
que saem ou entram na Capital em seus trajetos passassem a recolher
passageiros.
Os grevistas, apanhados de
surpresa contra seus interesses, então praticaram uma chantagem: ameaçaram
retirar os restantes 30% legais de ônibus se a EPTC continuasse a sustentar o
suporte dos ônibus metropolitanos.
A EPTC e a Metroplan cederam
diante da chantagem e os ônibus metropolitanos deixaram de recolher os
passageiros.
No meio desse impasse e já
vigorando a chantagem dos sindicatos, saí para as ruas para investigar
jornalisticamente o episódio.
Gastei mais de três horas na
vistoria de cerca de 12 paradas de ônibus.
Encontrei pessoas que esperavam
pelo transporte coletivo por mais de duas horas, aflitas, muitas com
compromissos, algumas poucas doentes. Isso nos eixos principais, porque, nos
ramos vicinais, os passageiros foram abandonados durante toda a tarde até a
noite.
Conversei com as pessoas e
constatei a tremenda encrenca humana e coletiva instalada na Capital.
A Justiça do Trabalho terá
imediatamente de punir com rigor essa chantagem sindical. Não pode uma
população inteira ficar dependente de escusas decisões sindicais para circular.
Se a EPTC tinha talentosamente,
diante da urgência que provocou o movimento paredista, desferido um golpe
semimortal na greve ao buscar o auxílio dos ônibus metropolitanos, os
sindicatos que comandaram ardilosamente a greve não podiam chantagear o órgão
controlador do transporte, ameaçando paralisação total dos ônibus: isso é
frontalmente contrário à determinação legal de que parte da frota tem de
continuar atendendo os munícipes.
Isso é uma fraude contra as
autoridades municipais, contra a população, contra o bom senso.
Ninguém é contra a greve, direito
fundamental dos trabalhadores. Mas, quando um setor de trabalho parte para a
chantagem eficaz, como aconteceu ontem, o império da Justiça tem de ser
restabelecido.
E o que os sindicatos grevistas
fizeram ontem foi dar as cartas e jogar de mão. Inadmissível. Perguntem às
centenas de milhares de passageiros que penaram ontem, nas paradas, perguntem
às empresas, perguntem aos órgãos públicos de todas as esferas que paralisaram
ontem em razão da greve que se tornou espúria pela chantagem qual foi o
prejuízo gigantesco que a cidade e a população sofreram com a atitude extorsiva
e eu diria criminosa que os sindicatos paredistas provocaram.
Espera-se por imediato uma ação
punitiva da Justiça do Trabalho. De uma vez por todas, a regulamentação da
greve nos serviços essenciais, na parte pelo menos do iceberg de intenções que
ainda sobrevive nos diplomas regulamentares, tem de ser cumprida.
Porto Alegre não pode continuar
refém de greves distorcidas por chantagem.
Isso não pode continuar.
Tolera-se, admite-se e até se solidariza com qualquer greve.
Desde que ela não use a esperteza
do delito trabalhista para triunfar.
Eu vi tudo isso com os olhos, nas
ruas, nas paradas. E fiquei sabendo de tudo isso por meu controle sensorial e
informativo.
Isso não pode, nunca mais,
jamais, se repetir.
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