15 de janeiro de 2014 |
N° 17674
ARTIGOS - Antônio Marcelo
Pacheco
O Maranhão de Pedrinhas não está tão longe
assim!
O Maranhão não está tão longe
assim como imaginamos. Ele está impregnado em todo o país. As violências, de
tantas e diversas formas, grassam de Norte a Sul, implodindo lentamente o que
chamamos de Estado democrático de direito. São resultantes das múltiplas e
complexas contradições do Estado e da própria sociedade civil, tão refém,
cúmplice e vítima de tudo aquilo que a ameaça e a expõe. O Brasil como um todo
está em Pedrinhas!
A penitenciária de Pedrinhas tem
filiais que se espalham por todo o território nacional, como também encontramos
filiais da corrupção, de impunidade e de uma degradação social que de uma forma
ou outra coloca os eventos programados para este ano de 2014 em uma perigosa
incógnita, pois o Brasil real não se encontra com o Brasil ideal.
Os problemas não são apenas
resultados de má gestão pública, de uma herança que confunde público com
privado, mas, igualmente, são consequências de todo um histórico que se inicia
na própria sociedade: junho de 2013 era para ser o começo, porém, acabou sendo
apenas e midiaticamente um breve interregno.
Os problemas com a segurança
pública, com a saúde, com a educação, com a habitação, com limpeza urbana, com
a miséria não são novidades e nem mesmo surpresa, todos, inevitavelmente se
constituíram em sujeitos de nossa cotidianidade. Às vezes, ocorre apenas de um
ou de outro se destacarem na mídia, mas estão sempre ali, espreitando o momento
em que contraditórios conquistarão o cenário de nossas atenções.
Em Porto Alegre, um assaltante
foi morto dentro de um ônibus, pois tentava assaltar com uma arma de brinquedo.
O nome disso não é legítima defesa, mas, sim, linchamento. Em Santa Maria,
apenas ali, nesses primeiros dias de janeiro, seis pessoas já foram
assassinadas, num índice geral nacional que projeta quase 500 mil para o ano
que recém se inicia.
Estamos grave e socialmente
doentes. É preciso, urgente, despertar para a nossa real condição, aceitar que
precisamos reconhecer a derrota de uma série de valores, discursos e
propagandas que nos venderam sobre o Brasil ideal. Caso contrário, o presídio
de Pedrinhas, no grande feudo do Maranhão, mais do que nunca é apenas um
pequeno exemplo, o pior exemplo daquilo que chamamos Brasil. E o preço para
esta cegueira nacional poderá ser de muitas outras tantas Ana Clara, que aos seis
anos morreu sem nem mesmo saber por quê.
E, num ano de Copa do Mundo, as
condições que favorecem o pior nos levam a temer pelo pior, pois para tudo, até
mesmo para o medo e as violências sociais, há um limite indeterminado que só
podemos temer e desesperar. É preciso que o país desperte logo, ou pelo menos
se reconheça que o Maranhão não está tão longe assim de todos nós!
*Sociólogo, membro do Grupo de
Pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS
ANTÔNIO MARCELO
PACHECO*
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