28 de janeiro de 2014 |
N° 17687
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Três conversas impensáveis
– Tu sabe onde anda a Aurora?
– Voltou pro país dela. Faz uns
meses já.
– Ah, é? Foi fazer o quê?
– Estudar. – O quê? –
Administração.
– Não tem como não lembrar dela,
né? Sempre que vejo um suco de uva eu lembro dela, pelo nome. Qual o país dela?
– A Bolívia. Eu vou lá visitar
ela nas minhas férias.
Onde eu ouvi essa conversa? Numa
caixa do súper que eu frequento, poucos dias faz. Era entre a moça da caixa e
um dos moços que fazem aquele apoio, desembaraçam coisas, recitam de cor o
código de caixas de leite etc. Falavam de uma ex-colega, a boliviana de nome
Aurora, como o suco de uva que eu comprava. Me peguei pensando na novidade da conversa:
gente jovem, de extração social simples, que agora viaja e pensa no mundo de
outro modo, mais aberto e mais promissor que antes. Coisa boa.
Dias antes, uma amiga relatou
cena recente de Montevidéu: jovens na rambla, fumando um cigarrinho de maconha
e bebendo cerveja, fim de tarde, na paz. Chega um policial e educadamente
adverte que não era permitido... beber cerveja ali. Que não se ofendessem os
jovens, mas a lei era a lei. Mudança de paradigma é pouco para designar essa
imensa novidade, que me parece auspiciosa.
A terceira conversa não é ao
vivo, e aliás nem é conversa. É só um alô: Nico, te cuida aí. Precisamos de ti
pra continuar nos fazendo viajar para longe aqui perto.
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