14 de janeiro de 2014 |
N° 17673
EDITORIAIS ZH
O ACESSO À UNIVERSIDADE
Está consagrado, depois de ser
percebido por um bom tempo apenas como um experimento, o novo formato do
processo de disputa pelas vagas das universidades. O aumento superior a 30% no
número de inscritos na última edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) que
facilita o acesso à universidade, via internet, com base nas notas do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) reafirma a importância que esse mecanismo de
seleção vem assumindo no Brasil. O Sisu deixa de ser uma alternativa ao
vestibular e se reafirma como substituto de um modelo arcaico, que prevaleceu
por décadas no país.
O vestibular vinha sendo visto há
muito tempo como uma gincana em que os vencedores não eram necessariamente os
melhores estudantes, mas os que dispunham de recursos para se preparar para uma
verdadeira guerra e chegar ao Ensino Superior.
O Enem, que viabiliza a disputa
pelo Sisu, ganhou a adesão de importantes universidade do país, nos últimos
anos, após um período de desconfiança. Instituições reconhecidas pela qualidade
do ensino, muitas das quais mantidas pelo governo federal, resistiam a inovar
em seus critérios de seleção, como se fossem dependentes da tradição de um
modelo superado.
O novo sistema democratiza o
acesso, até porque incorpora a disputa por cotas e acolhe também os que chegam
à universidade através do Programa Universidade para Todos (ProUni). É evidente
que tais mudanças eliminaram parte das discriminações que penalizavam
estudantes oriundos de escolas públicas, que em sua maioria pertencem às
camadas de baixa renda. É enganoso, no entanto, achar que tudo está resolvido.
O Enem, o Sisu, o sistema de
cotas e o apoio oferecido pelas bolsas do ProUni são importantes, mas não são
suficientes para corrigir defeitos históricos da educação brasileira. O acesso
será de fato democratizado se os ensinos Fundamental e Médio forem finalmente
vistos como prioridade. O Brasil poderá dizer que a disputa por uma vaga na
universidade é igualitária quando a escola pública – com prédios sucateados,
com professores mal pagos, referências pedagógicas questionáveis e atraso em
relação aos avanços tecnológicos – enfrentar seus antigos desafios. Essa é uma
tarefa que, no jogo de empurra, é sempre atribuída, por dever legal, a
municípios e Estados.
Sabe-se que governos estaduais e
municipais não terão como superar deficiências sem compartilhar projetos e
soluções com a União. Melhorar o ensino básico é, sim, também uma tarefa do
governo federal, que centraliza recursos e deveria orientar as grandes
políticas para o setor, mas tem sido distante e omisso. Entre os muitos fatores
que contribuem para a desigualdade social, o ensino público precário é
certamente um dos mais devastadores. Sua qualificação é decisiva para que
programas de transferência de renda e outras medidas governamentais sustentem
êxitos efetivos não só no curto prazo, mas nos benefícios duradouros da
educação.
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