15 de janeiro de 2014 |
N° 17674
ARTIGOS - Mauro Saller
Entre o mar e o rochedo
Reportagem do jornalista gaúcho
Giovani Grizotti veiculada no programa Fantástico, da RBS TV, no último
domingo, mostra uma nova forma de ação de quadrilha de assaltantes contra
bancos e bancários. Em vez de armas, os ladrões usam a esperteza. Desviam a
atenção dos bancários, ingressam nas tesourarias e saem com somas vultosas de
dinheiro sem serem notados. Há casos em que os ladrões chegam a pescar malotes.
A quadrilha age em todo o Brasil. Alguns de seus integrantes foram presos na
semana passada.
Há um bom tempo, denuncio a
situação de insegurança e medo por que passam os bancários. Quadrilhas que
sequestram gerentes ou algum familiar deles. Trabalhadores de agências inteiras
são amarrados nas agências por horas. Explosivos são detonados sob prédios
residenciais ou comerciais. O medo é tanto, que os bancários estão
pressionados. Ficamos entre o mar e o rochedo.
Não temos vocação para marisco.
Temos, sim, disposição para lutar por ambiente de trabalho decente. Mas isso
tem sido muito difícil. Os investimentos dos bancos em medidas efetivas de
segurança são insuficientes, assim como a fiscalização das autoridades ao
cumprimento da legislação. Certamente, os ladrões criativos mostrados na
reportagem teriam muito mais dificuldades se as bancadas dos caixas fossem
adequadamente dimensionadas e se o acesso às áreas internas fosse restrito. Há
agências com banheiro para clientes – exigência legal – ao lado ou próximo à
tesouraria.
As consequências são dramáticas.
Verdadeiros traumas familiares se instalam nos lares dos bancários. Além do
trauma e do medo, a reportagem mostra o estigma social que recai sobre o
trabalhador por ter sido enganado. O bancário é refém de um sistema de
segurança extremamente falho e recebe a culpa. Somos duas vezes vítima: dentro
e fora da agência.
Os bancos são insensíveis ao
sofrimento e ao investimento adequado contra a violência. As agências precisam
de mais equipamentos de segurança previstos em lei. Biombos impedem a
visibilidade e previnem assaltos quando clientes saem dos bancos, a chamada
saidinha. Mais vigilantes e mais funcionários nas agências reduzem as chances
de estranhos entrarem em tesourarias sem serem vistos.
Mais uma vez fazemos um grito de
alerta e pedimos socorro. A falta de respeito adoece os bancários. A cada
tragédia, cresce o sofrimento. Será que apenas uma grande tragédia
sensibilizará as autoridades a tomarem uma atitude? Não podemos esperar mais.
Já temos tragédias demais.
*Presidente do SindBancários
MAURO SALLES*
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