RUTH DE AQUINO
17/01/2014 20h37 - Atualizado em 17/01/2014 20h45
O rolezão do verão
Rolezinho não é fenômeno político
ou social, não é novidade. É um modismo da estação selvagem
Que me perdoem a ministra
sem-noção, os policiais truculentos, os sem-teto oportunistas, os lojistas
apavorados, os esquerdistas e os fascistas, que tal baixar a bola e parar com a
histeria? Antes que realmente se dê motivo para vandalismo?
Escrevo antes do rolezão programado para o
domingo no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. Oito mil jovens já confirmaram
pelas redes sociais que irão a esse centro comercial, num dos metros quadrados
mais caros do Brasil. Eles curtem grifes, zoação, funk e beijaços. E detestam
política (não há como culpá-los, não é, Roseana e Renan, a dupla caipira RR?).
Pardos e mestiços, como a maioria dos brasileiros, e não brancos ou negros,
eles parecem clones do Neymar sem brincos de brilhante.
Detesto shopping e multidão. Abomino a ânsia
do consumo. Prefiro as ruas, mesmo com pedrinhas portuguesas. Entendo quem
goste de shopping, e são consumidores de todas as classes sociais –
especialmente em tempos de liquidação. Não dou rolezinho em shopping. Não como
em shopping. Quando vou a um cinema ou teatro em shopping, subo de elevador
para não rolar pelos corredores de vitrines, escadas rolantes e praças de
alimentação. Minha praça é outra, tem árvore, vento, flores e banquinhos, seja
no Rio, Londres ou Paris. Mais na Europa, admito, porque as praças brasileiras
são maltratadas pelos prefeitos e pela população.
Evitar shoppings não me livra do
rolezão do verão. As grandes cidades, especialmente as litorâneas, se tornam
palco de um imenso rolezão – festivo ou agressivo – quando as temperaturas
alcançam 40 graus e o Carnaval se aproxima. Quem viu as fotos do mar e da areia
em Ipanema nos últimos fins de semana, quem testemunhou os arrastões... Quem
caminha ou vai à praia no Rio na estação selvagem é personagem do rolezão. Está
no calendário. Acontece antes de os blocos carnavalescos assaltarem (no bom
sentido) as ruas e avenidas cariocas. Estamos todos misturados. Favelados,
periféricos, suburbanos, playboys, peruas, gostosos, gostosas, atletas, atores,
artistas, idosos, bebês.
Corre-corre dá medo? Dá, muito. Quando passo
por um grupo grande e barulhento de pivetes, guardo meu iPhone. Preconceito ou
realismo? Neste verão sem policiamento ostensivo (os policiais estão todos nas
UPPs), o que tem de garoto roubando o celular direto do seu ouvido, no meio da
conversa, seja você gringo ou local... Recordo um filme colombiano de 2000, La
virgen de los sicarios (A virgem dos assassinos), baseado no romance homônimo
de Fernando Vallejo. O filme, com roteiro do escritor, retrata sua cidade
natal, Medellín, tomada por furtos e assaltos de adolescentes.
Nos rolezinhos dos shoppings,
está cheio de gente mal-educada? Está. Acontece em todo lugar e com todas as
classes sociais. Dos riquinhos e fortinhos aos pobrinhos e magrinhos, dos
héteros aos gays, dos ambulantes aos quiosqueiros, dos flanelinhas aos
motoristas de ônibus e de possantes. Como o brasileiro, em geral, é
mal-educado! Socorro. Confunde extroversão com barulho. Espaço público de
convívio social significa “espaço onde só se conversa aos gritos” e onde gente
fura fila sempre que pode.
Não me venham classificar rolezinho como
fenômeno político ou social... Ou, pior, como alguma “novidade”, positiva ou
negativa. Enxergo como mais um factoide de verão abaixo do Equador, igual a
tantos outros. Como o toplessaço que não colou por preconceito. Quanta
hipocrisia numa sociedade hipersexualizada de bunda de fora.
A bagunça mudou de cenário porque está quente
do lado de fora e, nos shoppings, o ar-condicionado funciona. Eles vão lá se
divertir, “catar mulher”, provocar, conseguir seus 15 minutos de fama, fugir de
policial, beijar como nos blocos. Não deram a sorte de entrar na casa do BBB.
Recusam-se a ser eliminados. Torcem para o circo pegar fogo e, assim, aparecer
na televisão, na primeira página dos jornais e na capa das revistas.
Anônimos e invisíveis, ganham aura de black
bloc, experimentam o poder de arregimentar multidões nas redes sociais. Causam
furor, torcidas pró e contra. Nunca sonharam tão alto. Só mesmo num país em que
a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, incita ao racismo, dizendo que
os problemas com os rolezinhos são “derivados da reação de pessoas brancas”.
Santa ignorância. A escola é do Lula. Ele disse em 2009 que a crise era causada
por “gente branca de olhos azuis”.
Os jovens dos rolezões são
ajudados pela burrice dos policiais, prefeitos e governadores, que os
transformam em mitos e inflam seus egos. Bombas de gás? Multa de R$ 10 mil? Se
os policiais fardados são incapazes de evitar furtos de um bando de moleques
sem apelar para a brutalidade ou a ignorância, estão eliminados do BBB – deu
para entender, brothers?
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