11 de janeiro de 2014 |
N° 17670
NILSON SOUZA
Nas asas do profeta
Conheci outro dia um lugar
encantador no centro de Porto Alegre. Numa dessas tardes ditas senegalescas,
para espanto dos senegaleses que nos visitam, refugiei-me numa livraria da Rua
Riachuelo (homenagem à célebre batalha que livrou o Rio Grande de ser hoje uma
província paraguaia).
Te devemos essa, Almirante
Barroso! Pois bem, entrei em busca de ar-condicionado e caí num paraíso de
livros usados, delicadamente dispostos em estantes adornadas por anjos, santos,
estatuetas, bonecos, bichos, relógios antigos, prensas, globos terrestres,
jogos de xadrez, quadros e até um gramofone. Nada mais apropriado para lembrar
aquela “música ao longe”, que o grande Erico imaginou para explicar o amor que
ainda não se definiu, e que acabou virando título de um de seus romances. Pois
a livraria de que vos falo chama-se exatamente Erico Verissimo, um sebo magistralmente
organizado e dirigido por Denise Filippini, uma apaixonada por livros.
– Posso ajudar? – perguntou,
flagrando meu espanto com a beleza do lugar.
Como estava à procura de um livro
antigo para presentear um amigo, respondi prontamente:
– Já procurei em vários lugares,
será um milagre se você tiver. Busco A História da Raça Humana Através da
Biografia, de Henry Thomas.
Ela lamentou:
– Que pena! Tinha esse livro até
a semana passada, mas um cliente encomendou na Martins Livreiro e mandei o
livro para lá.
O cliente era eu. Porém, antes de
sair correndo para buscar a minha encomenda, desfrutei um pouco mais do lugar.
Revirei estantes, mexi nos objetos decorativos, tirei fotos e questionei a
proprietária sobre a frequência de público, pois ando cada vez mais preocupado
com o desapreço das pessoas pela leitura. Saí de lá revigorado, acreditando um
pouco mais na humanidade. E com um livro de Khalil Gibran nas mãos. Asas
Partidas, a primeira história de amor do autor de O Profeta, foi também minha
primeira leitura deste ano.
O.k., sei que falo de
antiguidades, Gibran, Henry Thomas, Erico, a própria livraria da Riachuelo, que
deve ser mais do que conhecida dos leitores vorazes.
Mas precisava contar para alguém
que leitores vorazes não são uma espécie em extinção.
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