11 de janeiro de 2014 |
N° 17670
PAULO SANTANA | MOISÉS MENDES -
INTERINO
O dinheirinho
Sempre que fazem operações
policiais contra a corrupção, como essa na Secretaria de Obras do Estado, eu
aposto aqui na Redação com meus amigos Leandro Fontoura e Adriana Irion: vão
achar dinheiro vivo dentro de uma chaleira. Erro sempre. Acharam US$ 50 mil na
casa de um dos investigados, mas estavam dentro de uma gaveta.
Desde as primeiras notícias, na
manhã de quinta, eu disse para o Fontoura e a Adriana que esse caso tinha todo
jeito de corrupção de segunda divisão, de gente que está começando. E não é
mesmo uma turma que possa jogar no primeiro time.
Mas, enfim, voltando ao dinheiro
em casa. Não guardo nada de dinheiro vivo, nem moeda. Apliquei minhas sobras em
bolsa, em 2008, e perdi tudo depois da quebra do banco Lehman Brothers.
Prometeram que eu seria sócio do capitalismo nas bolsas e eu acreditei.
Apliquei R$ 2 mil que pretendia multiplicar por quatro para fazer uma plástica
de correção nas pálpebras. Quando retirei o dinheiro da bolsa, me devolveram
pouco mais de R$ 1 mil.
Esconder grana viva em casa pode
ser pior do que deixar na bolsa. Num caso anterior, aqui em Porto Alegre, um
suspeito cercado pela polícia jogou pela janela R$ 60 mil em dinheiro num vaso
de samambaia.
Dinheiro vivo sem origem legal
tem que ser camuflado. Como guardar o dinheiro em casa? A mulher e os filhos
devem ficar sabendo? Quais os lugares seguros: a despensa, um buraco no pátio,
a churrasqueira desativada? E se o cachorro da casa achar? E a sogra pode
sentir o cheiro.
Há uns quatro anos, entrevistei
um alto funcionário da Receita. Ele me disse que, se derrubassem as paredes das
casas de investigados por falcatruas, sairia dinheiro voando pra todo lado. Me
contou que o dinheiro confinado em casa pertence à chinelagem do esquema,
geralmente servidores públicos que viraram cúmplices de uma quadrilha ou sócios
menores da gangue.
O dinheiro grosso, dos
empreiteiros, do corruptor, está bem acomodado numa empresa de fachada, na
conta de um laranja, no Uruguai. O amador é quem guarda dinheiro em casa. Ele
fica com as migalhas e é o primeiro a ser preso.
É o funcionário público que leva
bordoada como ladrão, que perde o emprego, passa a ser olhado de lado pelos
vizinhos. Poucos chinelões se dão bem.
A chefia, a do dinheiro gordo,
escapa quase sempre. Porque a lei é mansa com o corruptor, fica difícil
conseguir provas. O corruptor tem os melhores advogados. É raro ver um
corruptor na cadeia.
Acaba sobrando para o cara do
dinheirinho escondido. Me contaram a situação de um corrupto pequeno que enfiou
R$ 20 mil dentro de uma garça de cimento, dessas de enfeite de jardim, que foi
levada para o porão da casa. Isso aí pelo final dos anos 90. Como não podia
fazer grandes compras para não chamar a atenção, foi gastando aos poucos num
boteco perto. Comprava pão, manteiga e o cigarrinho.
Todo dia, a mesma coisa: pão,
manteiga, alguma verdura, um mandolate. Consumiu todo o dinheiro nessas
comprinhas. Usufruiu da corrupção por anos para comprar pão, manteiga, alface e
uma cervejinha de vez em quando. O mundo é cruel com os pilantras amadores, mas
só com os amadores.
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