terça-feira, 14 de janeiro de 2014


14 de janeiro de 2014 | N° 17673
LUÍS AUGUSTO FISCHER

A violência e o meu deputado

Sábado, 18h, um amigo terminava de ajeitar no carro os comes para a festa de 9 anos de sua filha, em frente ao prédio em que mora, para levar ao local do aniversário, perto dali, tudo no bairro Petrópolis, Porto Alegre. Dois sujeitos aparecem e anunciam assalto, pegam celular, chaves e carteira dele, com uma arma apontada para a cabeça do pobre pai, que pede para retirar dali aqueles comes, preparados em casa, com amor, “São para o aniversário da minha filha!”. Um dos dois canalhas concorda, o outro não, o carro arranca e leva junto, além de tudo, a paz de gente honesta.

Como seguir a vida depois disso? Eu mesmo já sofri na pele um assalto assim, a mão armada e tudo – mas sem o agravante dessa medonha invasão a um recanto que deveria ser sagrado, a relação com os filhos. Demorei mais de ano para deixar de me sobressaltar a cada vez que passava pelo local ou por locais assemelhados. Espero que meu amigo demore menos tempo, e que sua filhota não perca demais o sono, o apreço pela vida, a ilusão da vida.

Na hora me retornou o gosto amargo da impotência. Que se pode fazer? É certo que um assalto assim não é tão grave, historicamente, quanto o horror da cadeia maranhense; mas não aceito que episódios como esse do sábado sejam desprezados pela consciência e pela ação dos agentes públicos. É óbvio que aqueles dois ladrões perversos não pagarão nada pelo que fizeram. Ainda que venham a ser presos pelo feito, o que não é nada verossímil, serão soltos duas horas ou dois dias depois, porque advogados e juízes, por oportunismo ou por limitações legais, se encarregarão disso.


E pergunto: que partido, que deputado, o meu deputado (cujo nome eu sim lembro bem, e acompanho pelo noticiário para ver se repito o voto), quem afinal vai tomar a peito a enorme, confusa, obscura mas inadiável tarefa de mexer nesse vespeiro da legislação penal, seus desvãos, sua malícia? Não quero pena de morte, nada disso: quero justiça funcionando – quem faz errado, paga pelo feito, simples assim. Mas não tolero a ideia também perversa de que a classe média pode sofrer, porque outros sofrem mais.

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