27 de janeiro de 2014 |
N° 17686
PAULO SANT’ANA
O casamento antigo
Foi providencial essa chuva de
dois ou três dias para nos tirar do sufoco do calor quase que insuportável.
É impressionante como a vinda das
chuvas baixa violentamente a temperatura: houve um dia, agora, em que a
temperatura, com a chegada da chuva, baixou em 12 graus.
E me dizia um atrevido amigo
outro dia: “Só tem uma coisa mais saborosa do que namorar a mulher do amigo: é
conquistar a mulher do inimigo”.
E eu me atrevo a dizer que o mais
delicioso é você fazer amizade pura com uma mulher durante um a dois anos e,
logo depois disso, instalar-se entre os dois um profundo e inevitável amor.
Esse é o tipo do amor mais
duradouro.
Porque foi cimentado em cima da
amizade desinteressada.
Antigamente, o namoro era a
véspera do noivado. O noivado era uma formalidade indispensável, com cerimônia
de entrega das alianças e assim se constituía em véspera do casamento.
E, não raro, o casamento era
véspera inarredável de separação.
E, quando noivavam os noivos, era
quase impossível que não se casassem. Se, no entanto, se rompesse a promessa de
casamento, dizia-se no chocado círculo dois dois: “Fulana e fulano desmancharam
o noivado”.
E sempre uma ex-noiva tinha certa
dificuldade em namorar outro rapaz.
Hoje a cerimônia de noivado está
praticamente extinta.
Havia também uma cerimônia tácita
entre os casais: o rapaz, noivo ou namorado da moça, solicitava um encontro com
os pais dela e na ocasião pedia “sua mão” em casamento.
Nesse momento, os pais da moça,
se consentissem que ela se casasse com o rapaz, faziam mil recomendações a ele
no sentido de como tratar a sua filha.
Como mudaram os tempos!
O casamento antigamente era um
ritual: casavam-se os noivos no civil e no religioso, com a noiva em pleno ato
atirando um ramo, me parece que de flores, para trás, na direção das moças
solteiras suas amigas. Acreditava-se que aquela moça que conseguisse segurar o
ramo não tardaria em se casar.
E, mais antigamente ainda, quando
o noivo ia até a casa da noiva para visitá-la, às quartas-feiras e aos
domingos, era posto junto à noiva na sala da sua casa, mas sempre na companhia
de outra pessoa designada entre os parentes da noiva. Essa pessoa era chamada
jocosamente de chá de pera.
Ah, bons e inesquecíveis tempos
aqueles em que o sexo entre os casais só podia haver após o casamento, que era
o penhor da virgindade.
Mas confesso que agora tudo mudou
para melhor.
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