quinta-feira, 30 de janeiro de 2014


30 de janeiro de 2014 | N° 17689
EDITORIAIS

PARALISAÇÃO ABSURDA

Os porto-alegrenses ficaram ontem sem um serviço considerado essencial pela legislação, num evidente abuso do direito de greve assegurado pela Constituição. Ao impedir que a totalidade da frota de ônibus da Capital saísse às ruas, as lideranças do Sindicato dos Rodoviários, respaldadas pela categoria, incorreram em infração à lei e em desobediência judicial, uma vez que o Tribunal Regional do Trabalho havia determinado que 70% dos veículos circulassem nos horários de maior demanda.

Essa atitude de confrontação, somada à omissão dos empresários do transporte e à leniência das autoridades, deixou a população desassistida e refém de uma situação verdadeiramente angustiante. Milhares de pessoas não puderam se deslocar para o trabalho e para outros compromissos, muitos tiveram que pagar tarifas mais elevadas para andar de lotação ou táxi, e a economia contabilizou prejuízos variados.

Todos perderam com o impasse. Até mesmo os trabalhadores rodoviários, que aparentemente alcançaram o objetivo de não deixar os ônibus circularem. Eles perderam, principalmente, o apoio da população para a sua causa e agora vão para a negociação com a imagem de descumpridores de acordo, como estão sendo considerados pelo tribunal mediador.

A greve é um instrumento legítimo dos trabalhadores para ser utilizado na busca de melhores salários e de condições dignas para o exercício de qualquer profissão.

Mas o serviço de transporte público, como o de fornecimento de água, energia elétrica, assistência à saúde e outros mais, constitui um direito essencial da coletividade – portanto, um direito maior do que as prerrogativas de uma categoria profissional. Não pode ser negado totalmente, como foi ontem e como tende a ser hoje novamente, antes da nova rodada de negociações.

A paralisação absurda e insensata tem ainda um outro componente que precisa ser debatido pela sociedade. Os proprietários de empresas de ônibus e o próprio prefeito de Porto Alegre, que em última análise é o responsável pela Carris, alegam que não tiraram os ônibus das garagens por medo de depredação – o que, efetivamente, aconteceu com alguns veículos na noite de terça-feira. Trata-se de outra rendição inaceitável. Jogar pedra em ônibus, além de covardia, é um crime. E crimes precisam ser coibidos pelas forças de segurança. Não há como transigir em relação a isso.

Sem a restauração da lei e da ordem, fica difícil defender o diálogo, a livre manifestação e o respeito às reivindicações dos trabalhadores, que são os caminhos adequados numa democracia. Como dispensar consideração a quem desconsidera o sofrimento e as necessidades dos usuários do serviço de transportes?


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