terça-feira, 14 de janeiro de 2014


14 de janeiro de 2014 | N° 17673
PAULO SANT’ANA

Volto à trincheira

Estive afastado 15 dias desta coluna, que foi ocupada nesse período pelo surpreendente Moisés Mendes, que melhora como uma pirâmide em demanda do infinito.

Gastei os 15 dias de folga em exames e revisões médicas e numa viagem a Garopaba, onde a visão daquele mar radioso me proporcionou instantes de estupendas reflexões.

Na minha folga, topei por aí e em Garopaba com muitos chatos.

Um dos chatos me chateou muito, mas eu já inventei um antídoto infalível contra chatos, favorecido que fui pela minha surdez nos dois ouvidos.

Um chato reclamou então para meu filho: “Desisti de falar com o Paulo Sant’Ana, a gente fala, fala, e ele não repercute”.

Na verdade, inventei um método eficaz para espantar os chatos, mediante o qual sou eu quem chateia os chatos.

Durante meus 15 dias de folga, aprendi muito. Aprendi, por exemplo, que uma esposa dura somente o tempo decorrido no casamento, enquanto a ex-esposa dura por toda a vida.

Aprendi que fumo porque, na minha idade, tenho de segurar o cigarro, se não tiver algo em que segurar, caio.

Aprendi que para evitar estresse tem-se de evitar a excitação, passando mais tempo em companhia da esposa.

Aprendi que nada é bastante para quem considera o pouco suficiente.

Aprendi também que dinheiro é igual ao táxi: quando você mais precisa dele, não aparece e, quando aparece, alguém já o pegou primeiro.

E aprendi assim, finalmente, que quem não tem inteligência para criar tem de ter coragem para copiar.

Estragaram-me as férias as notícias de três bárbaros degolamentos de presos por outros detentos num presídio do Maranhão. As imagens das cabeças decepadas envoltas por sangue foram sonegadas a milhões de leitores de jornais do Brasil sob vários pretextos.

Da minha parte, a não publicação da barbárie sangrenta ainda mais contribui para que o Brasil cada vez mais se torne um país de violências primitivas.


Esconder dos leitores as cabeças degoladas é, em suma, ocultar a sujeira meio embaixo do lençol.

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