24 de janeiro de 2014 |
N° 17683
EDITORIAIS
OS DOIS BRASIS
O eixo do pronunciamento que a
presidente Dilma Rousseff fará nesta sexta-feira em Davos deve evidenciar
visões aparentemente conflitantes do Brasil deste início de século 21. Conforme
antecipou o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República, Marcelo Neri, a fala presidencial estará centrada numa suposta
assimetria entre o que pensa a população, supostamente satisfeita com o aumento
de renda e do poder de consumo, e os empresários, que seriam os pessimistas em
relação aos rumos da economia.
O que se apresenta como um
confronto de percepções pode, na verdade, ser uma abordagem simplista de como o
país é visto interna e externamente. Pesquisas sobre o nível de satisfação dos
brasileiros revelam que a maioria está de fato satisfeita com suas condições de
vida, apesar de explicitar descontentamentos com questões básicas, como os
serviços de saúde ainda precários e a segurança pública degradada.
Mas não há conflito entre esse
otimismo e a posição crítica de quem tem o dever de vislumbrar cenários para
muito além da conjuntura. A preocupação que estará presente em Davos, entre os
4 mil participantes do evento, incluindo chefes de Estado, empresários,
autoridades da área econômica e analistas internacionais, converge para uma interrogação:
até quando o Brasil poderá sustentar tais níveis de satisfação, se vem tendo
desempenhos pífios do PIB e adia iniciativas de responsabilidade do setor
público para superação de gargalos estruturais? O Brasil otimista com a atual
situação sabe que somente preservará suas expectativas se dispuser de
desenvolvimento sustentável e duradouro.
A presidente da República, na
condição de economista, também sabe que bons níveis de consumo interno são
indicadores positivos, com reflexos em produção e emprego, mas insuficientes
para garantir o atendimento de todas as necessidades de médio prazo.
O que Davos espera do Brasil é o
grande salto, não com soluções mágicas, mas com atitudes seguras, de política
de Estado, que promovam avanços na educação, na gestão pública austera, na
redução do Custo Brasil, na melhoria da infraestrutura e na conexão entre as
ações de governo e os interesses da maioria. E tudo isso depende da capacidade
de quem está no poder de não conspirar contra quem corre riscos e empreende.
Para promover educação, saúde,
segurança e serviços básicos, os governos dependem de investimentos e esses
somente se sustentam em ambientes seguros. A presidente falará na Suíça para
formadores de opinião que interferem, direta ou indiretamente, nos grandes
movimentos mundiais dos investidores. Será a esses espectadores, atentos aos
rumos do país, que a senhora Dilma Rousseff irá dirigir sua mensagem. Esse
público certamente não terá suas expectativas atendidas se a palestra se
limitar à exaltação de otimismos internos. O investidor, nacional e
estrangeiro, espera realismo, com as condições necessárias à tomada de decisões
para projetos de médio e longo prazos.
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