segunda-feira, 13 de janeiro de 2014


13 de janeiro de 2014 | N° 17672
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA

O som e a fúria

Numa dessas festas de fim de ano, alguém me perguntou quem gostaria de encontrar em 2014. Na hora não soube dizer: nunca me ensinaram como reagir a essas indagações súbitas, ainda mais quando o pano de fundo são a explosão dos foguetes ou o espocar das rolhas de champanhe. Agora, no entanto, passados os combates, me dou conta de que não me agradaria ver alguém em especial. Eu gostaria, sim, de ouvir.

Quem? O quê? Para início de conversa, A Paixão Segundo São Mateus, de Bach, adicionada da Nona Sinfonia, de Beethoven, em especial o terceiro movimento, a Heroica, a Quinta, mais o Quarto Concerto para Piano e Orquestra.

Não me desgostaria de ser presenteado com audições de Mozart, aí incluídos, é claro, o Réquiem, a Sinfonia em Ré Menor, as Árias, de preferência numa gravação antiga de Elizabeth Schwartzkopf, sempre assombrosamente moderna.

De Chopin? Acho que escolheria o Concerto em Si Menor e as Quatro Baladas, sem esquecer o charme das Polonaises, bem assim, no plural.

Tchaikowski estaria representado inteiro em Romeu e Julieta.

De Liszt, elegeria a Sonata em Si Menor, a Sonata del Petrarca, os Estudos e, é evidente, a Dança da Morte. Seriam uma ótima ouverture para, quem sabe, o Concerto para Piano e Orquestra, de Grieg.

E Brahms? Brahms é um dos três grandes Bês do mundo conhecido. Dele eu ficaria com os Concertos para Piano, os Quartetos, os Lieder, estes interpretados por um Fischer-Dieskau ou um Hermann Prey.

Mais Lieder? Aí é preciso convocar Schumann, que não faria mal se me reapresentasse ainda o Concerto em Lá Menor para Piano e Orquestra. O palco estaria completo com os Improvisos para Piano de Schubert. Para o grand finale, eu reservaria Vivaldi, Debussy e Ravel.

É evidente, contudo, que nem a monumental Ópera de Sydney poderia abrigar tamanha constelação de astros. Eis aí razão bastante para que esse colossal espetáculo continue entregue apenas aos meus sonhos.


Ou quem sabe aos devaneios do menino que fui, cuja infância foi abençoada pelo som e a fúria das mais belas músicas do universo.

Um comentário:

René disse...

Que sensação de bem estar ao ler um texto como este que nos proporciona o ENCONTRO com alguém que gosta daquilo que gostamos. É uma pena que Liberato Vieira da Cunha não esteja mais escrevendo as suas colunas, sempre muito esperadas. Em sua homenagem, estou escutando a extraordinária Elizabeth Schwartzkopf interpretando , nada menos que as QUATRO ÚLTIMAS CANÇÕES DE RICHARD STRAUSS.