quinta-feira, 30 de janeiro de 2014


30 de janeiro de 2014 | N° 17689
PAULO SANT’ANA

O desacato sindical

Amigo, que bom que tu existes. Chega para mim ser providencial que tu existas.

É comovente, amigo, a forma cordial com que vens em meu socorro nestas horas em que não sei o que seria de mim se tu não existisses.

Às vezes, desconfio que Deus põe diante de nós obstáculos terríveis sabendo que alguém acabará por nos ajudar, é o teu caso comigo.

Amigo, tem o mais sublime ainda: vejo em ti a tua alegria quando me ajudas, ou seja, são dois os beneficiados, eu pelo teu amparo e tu pelo contentamento de que és invadido quando mais uma vez me estendes a mão.

Nenhum pai, nenhum irmão, ninguém, me acode ou me acudiu como tens me acudido.

Amigo.

Estávamos ontem na seguinte situação: a Justiça do Trabalho havia ordenado aos sacripantas sindicatos que detonaram essa greve infame que providenciassem imediatamente para acudir a população com 70% da frota de ônibus nos horários de pico, em vez dos 30% que a lei já ordena.

Primeiro, os sindicatos mentiram: disseram que não podiam mobilizar seus trabalhadores para atender com os 70% da frota ontem, assim de repente. Mais tarde, mostraram as suas unhas: declararam que, além de ontem, é para sempre que não vão atender os 70% ordenados pela Justiça e fizeram mais um desaforo: retiraram também de circulação os 30% da frota que a lei determina, com o que ficou em zero a frota. Nenhum ônibus circula desde ontem na cidade.

Isso é zombar da lei e tripudiar da Justiça.

O que fazer agora? Não sei o que a Justiça vai fazer desse desplante.

Eu sei o que eu faria, se fosse a Justiça: mandaria prender imediatamente os poltrões que dirigem os dois sindicatos que administram essa greve. Prendê-los é solução. Para que parem de fazer de Porto Alegre uma terra de ninguém, onde meia dúzia de irresponsáveis deixa no Lami, como eu vi ontem, uma senhora esperando oito horas por um ônibus que afinal lá nunca passou.

Aceita-se greve, aceitamos os direitos trabalhistas. O que não aceitamos é esse desacato ecoante e concreto que esses dois famigerados sindicatos cometeram contra a Justiça do Trabalho.

Tem de prender os dirigentes desses dois sindicatos de fancaria, um deles nem sede física possui, e por isso sabe que nunca pagará qualquer multa legal.

Nunca vi disso: a Justiça ser desobedecida à luz do dia. Mas então não há ordem neste país.

Se deixarem para lá essa desobediência declarada e desaforada, nunca mais ninguém vai obedecer à lei ou à Justiça.

Isso é que é queda de pulso: se esses desordeiros ficarem impunes, não prevalecerá mais em nosso meio a lei e a Justiça.

Contra a força da desordem, só pode ter de valer a força da lei e da Justiça!

Essa senhora do Lami com quem falei ontem, junto com milhares de outros porto-alegrenses, não tinha R$ 60 para pagar por um táxi e era urgente a sua locomoção.


Em nenhuma parte do mundo, já ocorreu ou ocorrerá uma greve tão desumana como esta de que Porto Alegre está sendo vítima.

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