MAURICIO STYCER
'BBB',
o 'guerreiro imortal'
O espectador, não apenas no Brasil, parece gostar do papel
de juiz do caráter do seu 'semelhante' confinado
Como o guerreiro escocês do filme "Highlander", o
"Big Brother Brasil" parece imortal. Ao estrear a sua 14ª edição, o
reality show da Globo mais uma vez mostra poderes extraordinários junto ao
mercado publicitário e ao público. Contra muitos prognósticos, se tornou uma
presença obrigatória na grade da emissora. O que explica a sua permanência?
Antes de prosseguir, deixe-me esclarecer o mito de que
"só os brasileiros gostam desta porcaria". Diferentemente do que
dizem os detratores, o programa criado pelo holandês John de Mol também segue
carreira de "highlander" em outras praças respeitáveis.
Na Espanha, a recordista, o "Gran Hermano",
exibido pela Telecinco, já teve 19 edições (14 normais e cinco especiais, com
ex-ganhadores e outras atrações). Nos EUA, já foram ao ar 15 versões pela CBS
--este ano será a 16ª. Hospedado, na Inglaterra, até a décima edição no Channel
4, a franquia se transferiu para o Channel 5, que neste ano se prepara para
exibir o "Big Brother 15".
É bem possível que, em matéria de audiência, a edição
brasileira seja a campeã. Mas o programa mostra ter público fiel em muitos
países e, pior, segue causando barulho por onde passa.
Em 2013, no "Big Brother" (EUA), comentários
racistas de um dos participantes motivaram discussões enormes nas redes
sociais, debates na imprensa e até petições para a expulsão do sujeito do
programa, levando o presidente da CBS a se manifestar sobre o assunto.
"Acho, pessoalmente, alguns dos comportamentos
absolutamente chocantes. O que você vê no programa, infelizmente, é um reflexo
de como certas pessoas se sentem nos EUA", disse Leslie Moonves.
É esta pretensão, justamente, a de mostrar um
"retrato" da realidade, um dos principais atrativos. Nenhum outro
reality consegue estabelecer a relação que o "Big Brother" cria com o
espectador, transformando-o num juiz da alma e do caráter do seu
"semelhante" confinado.
Sem qualquer preocupação "sociológica" com a
variedade, a seleção dos tipos que integram a edição brasileira foca
basicamente em jovens brancos, entre 20 e 30 anos, com disposição infinita para
alcançar a fama em troca da exposição da intimidade.
A repetição deste padrão costuma ser compensada pelo recurso
a novos expedientes, destinados a surpreender os candidatos e o público, em
matéria de castigos, humilhações e constrangimentos.
Como nenhuma outra atração, o formato "Big
Brother" tem conseguido expandir seu alcance graças a outras tecnologias.
Desde o início, fãs mais apaixonados aceitam pagar para ter a possibilidade de
acompanhar o programa 24 horas por dia. Muitos também não se opõem a gastar
dinheiro para votar. As redes sociais intensificam o diálogo entre
espectadores, a criação de fã-clubes e a explosão de polêmicas.
Numa ação promocional inédita, a Globo, neste ano,
estabeleceu uma conexão entre a sua principal novela, "Amor à Vida",
e o "BBB". Uma personagem, Valdirene, vivida por Tatá Werneck, passou
semanas tentando ser selecionada para o reality, até entrar, na noite de
quarta-feira (15) e ser eliminada no dia seguinte. As cenas de sua participação
foram exibidas nos dois programas. "Highlander" e criativo.
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