domingo, 19 de janeiro de 2014

MAURICIO STYCER

'BBB', o 'guerreiro imortal'

O espectador, não apenas no Brasil, parece gostar do papel de juiz do caráter do seu 'semelhante' confinado

Como o guerreiro escocês do filme "Highlander", o "Big Brother Brasil" parece imortal. Ao estrear a sua 14ª edição, o reality show da Globo mais uma vez mostra poderes extraordinários junto ao mercado publicitário e ao público. Contra muitos prognósticos, se tornou uma presença obrigatória na grade da emissora. O que explica a sua permanência?

Antes de prosseguir, deixe-me esclarecer o mito de que "só os brasileiros gostam desta porcaria". Diferentemente do que dizem os detratores, o programa criado pelo holandês John de Mol também segue carreira de "highlander" em outras praças respeitáveis.

Na Espanha, a recordista, o "Gran Hermano", exibido pela Telecinco, já teve 19 edições (14 normais e cinco especiais, com ex-ganhadores e outras atrações). Nos EUA, já foram ao ar 15 versões pela CBS --este ano será a 16ª. Hospedado, na Inglaterra, até a décima edição no Channel 4, a franquia se transferiu para o Channel 5, que neste ano se prepara para exibir o "Big Brother 15".

É bem possível que, em matéria de audiência, a edição brasileira seja a campeã. Mas o programa mostra ter público fiel em muitos países e, pior, segue causando barulho por onde passa.

Em 2013, no "Big Brother" (EUA), comentários racistas de um dos participantes motivaram discussões enormes nas redes sociais, debates na imprensa e até petições para a expulsão do sujeito do programa, levando o presidente da CBS a se manifestar sobre o assunto.

"Acho, pessoalmente, alguns dos comportamentos absolutamente chocantes. O que você vê no programa, infelizmente, é um reflexo de como certas pessoas se sentem nos EUA", disse Leslie Moonves.

É esta pretensão, justamente, a de mostrar um "retrato" da realidade, um dos principais atrativos. Nenhum outro reality consegue estabelecer a relação que o "Big Brother" cria com o espectador, transformando-o num juiz da alma e do caráter do seu "semelhante" confinado.

Sem qualquer preocupação "sociológica" com a variedade, a seleção dos tipos que integram a edição brasileira foca basicamente em jovens brancos, entre 20 e 30 anos, com disposição infinita para alcançar a fama em troca da exposição da intimidade.

A repetição deste padrão costuma ser compensada pelo recurso a novos expedientes, destinados a surpreender os candidatos e o público, em matéria de castigos, humilhações e constrangimentos.

Como nenhuma outra atração, o formato "Big Brother" tem conseguido expandir seu alcance graças a outras tecnologias. Desde o início, fãs mais apaixonados aceitam pagar para ter a possibilidade de acompanhar o programa 24 horas por dia. Muitos também não se opõem a gastar dinheiro para votar. As redes sociais intensificam o diálogo entre espectadores, a criação de fã-clubes e a explosão de polêmicas.

Numa ação promocional inédita, a Globo, neste ano, estabeleceu uma conexão entre a sua principal novela, "Amor à Vida", e o "BBB". Uma personagem, Valdirene, vivida por Tatá Werneck, passou semanas tentando ser selecionada para o reality, até entrar, na noite de quarta-feira (15) e ser eliminada no dia seguinte. As cenas de sua participação foram exibidas nos dois programas. "Highlander" e criativo.


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